William Soares dos Santos (1972), é carioca, professor da UFRJ e escritor. Dentre os seus trabalhos literários se destacam o livro de contos Um Amor e os livros de poesias Rarefeito e Poemas da meia-noite (e do meio-dia), livro ganhador do Prêmio PEN Clube do Brasil para livros de poesias publicados em 2017. Página do autor: http://williamsoaresdossantos.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Poemas da meia-noite (e do meio-dia) (Editora Moinhos, 2017).
OS ELEFANTES
Quem
defenderá a vida dos elefantes
quando a África sangrar?
Quem,
no meio da floresta adentro,
enfrentará a tormenta das noites
sem sono e dos dias sem lembrança?
Quem
preservará a memória dos elefantes?
Quem
ouvirá o seu canto inaudível e
fará revelar os antigos caminhos
pelos quais a matriarca da manada
guiaria seus filhos
ao antigo e derradeiro lugar
dos seus ancestrais?
Quem
chorará, como choram os elefantes,
diante do corpo sagrado da matriarca
a repousar em meio à relva que,
pouco a pouco, a resguarda
em seu irremediável
destino?
Quando
seremos como os elefantes
e arrancaremos de nós toda a
ganância, todo o ódio, toda a fúria
que nos faz infimamente pequenos
diante da grandeza,
infinita
grandeza,
dos elefantes?
SEMPRE ME DEITO
Sempre me deito
à meia-noite
do universo.
Se é que há tempo
— essa noção
tão descabida —
em meio a tanta
galáxia
cujo propósito
mal
divisamos.
CANÇÃO
Qual canção
cantaremos
para o nosso coração,
no meio da noite
do deserto
que repousa
em nós?
Qual canção
quererá
o nosso coração
ouvir
quando
o mistério
de seu pulsar
apontar os seus
últimos
acordes?
Qual canção
nos levará
ao mistério
da existência e
ao incognoscível
da morte?
Qual canção
nos oferecerá
o nosso raro destino
dentre as limitações
do ventre
da Terra?