Vitor Augusto Resquin Rodriguez, poeta e educador. Filho de um casal da zona leste paulistana: do pai, a maldição do samba; da mãe, o terreiro; da vida, a capoeira. Autor de Naufragar como Verbo (2017) pela Editora Reformatório e sua mais recente publicação Árido (2020) pela Editora Penalux.
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Os poemas a seguir foram selecionados da obra Árido (2020)
BANZO
São dois rios intransponíveis,
coisa que paira e bruma acumula.
A pressa ainda é menina e disfarça dor,
beijos em velame-do-campo,
mil estrelas, ainda, banzam meu amor.
TEMPO (IROKO)
Lavar os pés do Tempo
e se recolher à margem de sua cama,
deita o arrebol junto ao corpo,
salgado no rosto.
RETRATO
Peneira ninando grão
e o sol gargalha
nos olhos do meu bem.
CANAVIAIS
Vento no canavial,
já não mais vasculhamos
os espaços deixados pela saudade,
deixa para mais tarde.
ESPELHO ENTERRADO
Vertigens dos trópicos e a febril América Latina.
Mariposas dos sonhos cintilam ao redor do candeeiro
à procura de calor.
Corpos mestiços, terra sangrada.
Rastos de meu avô Guarani
– Espelho enterrado, empoeirado, um retrato 3×4.
Ao fundo, uma Gameleira-branca alteia o vestido de minha avó.
E o Paraguai nunca esteve tão perto das mãos
– ou, talvez, tão longe.
A mão que me afaga a pele:
duerme, duerme, negrito
que tu mamá está en el campo
Galgada a fronteira,
o chão borbulha,
meu corpo ferve.