Vanderley Mendonça, editor do Selo Demônio Negro, é jornalista, designer, tipógrafo, esgrimista e tradutor. Lecionou Editoração na Escola de Comunicação e Artes da Universida- de de São Paulo – ECA-USP. Estudou Colorimetria (Master’s Degree in Color Science) no RIT – Rochester Institut of Tech- nology, Rochester, EUA, onde se especializou em Teoria das Cores. Traduziu, entre outros livros, Poesia Vista, antologia bilíngue do poeta catalão Joan Brossa (Amauta/Ateliê, 2005), Crimes Exemplares, de Max Aub (Amauta, 2003), Nunca aos Domingos, de Francisco Hinojosa (Amauta, 2005) e Gregue- rías, de Ramón Gómez de La Serna (Selo Demônio Negro, 2010), Meninas que vestiam preto, antologia de mulheres da geração beat (Selo Demônio Negro, 2017), Mini-antologia da poesia holandesa e flamenga (Selo Demônio Negro, 2019), Poesia/Gedicht, de Hermann Hesse (Selo Demônio Negro, 2020). É autor dos livrso ILUMINURAS, (Ed. Patuá, 2013) e De Amor & Morte (Selo Demônio Negro, 2021).
Os poemas a seguir foram selecionados do livro De Amor & Morte (Selo Demônio Negro, 2021)
UM CANTO FUNDO
um silêncio verde
feito de guitarras
um poço com vento
em vez de água
não se pode calar
a voz da mágoa
POSSE
a dor possui o perdão
a bala possui o coração
a vida possui o corte
o veneno possui a morte
A DOR QUE NINGUÉM SENTE
há um sol que ninguém vê
em cada flor em cada entardecer
há uma palavra que ninguém diz
em cada verso em cada cicatriz
há uma canção que ninguém canta
em cada nota presa na garganta
há um lugar onde ninguém chega
em cada tarde em cada nesga
há um adeus que ninguém dá
em cada escrito em cada olhar
há uma dor que ninguém sente
em cada escuro em cada ausente
PORTO
sol e luto
céu morto
azul e mudo
o corpo
do amor
era tudo
o adeus
um porto
teu e meu
e deus
astuto
não deu
à dor
um fruto
ANDORINHAS
as andorinhas
têm uma tesoura na cauda
para cortar os ares
quando passam
o céu adormece
e o sol me esquece
meu olhar umedece
uma brisa agradece
e me toca a face