Vagner Mun, autor do livro de poemas quasemenos (editora Patuá), é de São Paulo. É organizador dos e-books de poesia e fotografia Essas Águas, Voares e Terrário e tem poemas publicados em diversos portais da internet e em coletâneas impressas. Dedica-se também à fotografia, ao design, à produção audiovisual e ao magistério universitário.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro quasemenos (Patuá, 2022).
SERENIDADE
Algo de água no ar
uma suspeita, na pele das coisas
a busca de marcas
em contraluz, de sombras
(a face escura da ínfima gota)
a mão pela janela: o que não se vê
Respira-se água o vento
(vivência primeva de peixe)
Chuva-não
vem.
TERRA, ESSA MULHER
Ora em Bicho (o outro um tal de Eu)
no movimento de abrir
a terra, deitar nela
semente, querer árvore
de nosso plantio
Ora procuro (o outro uma espécie animal)
o semear imaginado, que não se agrava
e não se grava
em nenhum terreno
E no campo
fecundo, uma parte no arado
outra no mato que invade:
Eu ou seja Bicho
entre homens que sou e que fui
e feras que ficam por ferir
plantado nessa carne e cor.
ATO DE FOGO
(para alguém da terra
na sua cor)
Mesmo o bicho talhado em labaredas
deita-se em primeira vez
quando na terra
que arde
Encrespa, geme e crava
em busca de que o fundo – o lugar mais úmido
cure a fome, o fogo que o consome
E é do movimento que erra, de fera
o casar ao acaso seu passo ao do fogo:
o incêndio se faz dentro
por um instante, lento
na dança do abraçar as chamas
No entanto o fogo vence
o bicho grita
escorre e morre
fincado
na terra.
Que beleza de poemas
…ora talhado em terra ou figo, respira-se água em vento,
essa fera, esse Bicho, em nossa Terra, essa Grande Mãe… 👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾