Tomaz Amorim Izabel: meia lua soco (2020)

Tomaz Amorim Izabel (1988) é natural de Poá/SP. É pós-doutorando em Teoria Literária na Unicamp. Escreve sobre política e cultura na Revista Fórum e faz crítica literária no Jornal Rascunho. Já publicou traduções de Walt Whitman e Franz Kafka. É editor do coletivo de traduções literárias Ponto virgulina. Já publicou poemas em diversas revistas virtuais. Em 2018, publicou seu primeiro livro, Plástico pluma, pela editora Urutau. Tem em seu currículo de “fechados”: Contra: Hard Corps, Mortal Kombat II, Altered Beast e, mais recentemente, Cuphead. Chegou ao elo Diamante no Paladins.




Os poemas a seguir foram selecionados do livro meia lua soco (Editora Primata, 2020), disponível para aquisição neste link.





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o buraco negro no centro da galáxia
é invisível
incapturável
infotografável
apesar do halo
do ralo

em seu emaranhado crespo
em seu rumor surdo
não é possível que seja porta de saída
mas de entrada
para dobras
falas por lábios
de outros universos



.



motocicletas com baús
carregados de pacotes binários
transmitem através das autopistas
circunscritas na placa-mãe da metrópole
bip ping
replicam tensos e velozes
entre chips e resistores
apressados atrasados
para a entrega de suas mensagens
congestionados pelo lag dos alagamentos
pelas barreiras de barramentos
na região das marginais
dos periféricos e dos ratos
tudo aquecendo o circuito aos poucos
tudo já ameaçando derreter
as pistas de verde-dourado asfalto
só lá no centro
acima da bolsa processadora
há um cooler piramidal
refrigerando eternamente
com seus milhões de microexaustores
mantendo amena a temperatura
à prova de tilts e crashes e bugs
enquanto em outro quadrante ali perto
na região média de uma memória
medita a grande fonte de eletricidade
resistindo contra todo curto
e perigo de invasão
que ameace o circuito da cidade
OHMMMMMMMMMMMM…

.


o real renderizado
o doce de leite
salivando dos lábios
a gota de suor cromo
escorrendo da cordilheira
daquelas costas bronzeadas
o real renderizado
no canto dos lábios
um sorriso branco
cheio de cálcio white max
tripla ação super fresh
não fosse um pontinho-
prismático no canto do olho
dizendo algo profetizando
incômodo
o triste pixel morto


.


acende o fogareiro neolítico
decora a caverna de pedra
com desenhos e tecidos quentes
arruma uma cama
para marido e filhos
tem medo de roedores
outros homens
e forças desconhecidas de
som e luz
sabe bem as horas mais apropriadas
para arranjar comida

em um apartamento do terceiro andar
muito acima do viaduto
discutem-se os progressos da inteligência artificial
e suas implicações para a história
humana e não-humana







Primata

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