Suzel Domini é paulista, lua em virgem, fotógrafa amadora e viajante solitária. Professora e pesquisadora da área de literatura por formação e profissão. Poeta de notas curtas em velhas cadernetas (aliás, nas horas mais inoportunas) por sobrevivência ou infortúnio. De patins rosa magenta e spectrespecs deslizando a toda na contramão, desde 1988.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Entre presa & fera (Patuá, 2018).
LOUBOUTIN NUDE SALTO 15
meu sangue negroamaro circula em vibrato
pelos veios y vielas de sevilha
sou carmen distraída avant la tragédie
um corpoalma sol em fogo
namoriscando signos carnívoros
*
antes de entranhar a escuridão
atiro aos gatos um beijo de ruby woo
(querendo se dissimulados y oblíquos
meus lábios ébrios contornam o abismo)
DEIXO A FLOR ABRIR SE EM MIM
fera, metafera
arfando aceito minha sina
de orquídea líquida
entre seus dedos
entre seus dentes vivos
LÁGRIMAS DE UNICÓRNIO
mimosa feito uma flor de lótus
y mais grossa que um parafuso de patrola
infinita em variantes para presa & fera
sem contar o coração de perdida
esse músculo meio confuso
ora cristão ora budista
obstinado em bater compulsivamente
sem descanso ou anestesia
prazer, suzel, a ovelha roxa da família
L’ENIGMA DI UN GIORNO, 1914
na vila enferrujada a vida
vai a esmo ensimesmada do eixo
ítaca é apenas um arco na paisagem
paz imposta sobre a praça
mas o silêncio em tempo cai
nos ombros do homem de ferro
y a sombra movediça da estátua
passeia até que a vida passe
O MÚSCULO DA NOITE
a noite desemboca paisagens
inabitáveis y um medo sem nome
interrompe meu fluxo de vida
se os ossos suportassem yo dançaria
un tango sobre este salto fino
não obstante mitigo mis muslos
ente multisciente y obscuro
a noite define a los hombres
por eso me azulo