Susy Freitas nasceu em Manaus, Amazonas. É autora do livro de poesia “Véu sem voz” (Bartlebee, 2015) e “Alerta Selvagem” (Patuá, 2019), vencedor do Prêmio Violeta Branca Menescal, destinado ao melhor livro inédito de poesia no Prêmio Literário Cidade de Manaus. É uma das editoras da Revista Torquato (www.revistatorquato.wordpress.com). Já publicou poemas na Revista Subversa, Revista 7 faces, Mallarmargens, Jornal Plástico Bolha, Revista Sirrose, Revista Sexus, dentre outras. Posta ocasionalmente no Medium (www.medium.com/@susyfreitas) .
Os poemas a seguir foram selecionados do livro “Alerta Selvagem” (Patuá, 2019).
AMAZÔNIDA (I)
Não me pergunte
sobre o rio – eu
fui cozida
no pavimento – eu
nunca soube
nada do rio – além
dos meus sedimentos – do
abraço morno
do domingo
flutuante
e o cenário todo
sorve esse sentir.
Lá abraço o rio
que aperta tudo
num nado
devorado –
longe da margem
pra longe da tarde.
Não me confunda com esse lugar
nasci aqui – mas meu rosto mente.
Não toco o chão com propriedade
na negação – beijo – o rio sente
e o cenário todo
sorve esse sentir.
CARNAVAL
Escuridão que chama escuridão:
essa sim é uma amizade perigosa
de sexos que seguem assentes
agulhas no toca-discos
agulhas na canela como alívio
alijo de convites no
barulho fundo
e vivo.
Nas noites ébrias
sorvemos algo amargo
que nos traz de volta
que nos despe agudos
à luz da cidade
à incerteza nos corpos
nos goles dos copos
no Bloco.
Manaus tira a roupa.
Sorri com uma mão
aperta o laço com a outra.
Te masca e cospe tal vaca.
Te quebra e abre tal casca.
Te bate com a colher
e tu mole e claro
gotejas.
Feto quebrado
no choro do
inverno invertido.
Desacelero.
Reacelero.
Tendões coxas ossos
empanados pela promessa.
A promessa
em que olhar morreu?
As pernas um nó nas poças.
A mão tonta em marcha.
A cabeça cevada em risos
retalha tua narrativa.
Estamos cheios de sangue e cenas
num mesmo drink:
Ele machuca – desce quente
e cala.