Pedro Spigolon nasceu em Araras (SP) no dia 16 de Abril de 1992, sob o signo do fogo. Graduou-se bacharel em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas. Publicou espanto (Editora Medita, 2015), seu primeiro livro de poesias em maio de 2015, no qual estão os textos selecionados; e poemas na revista literária euOnça, yoJaguar e na antologia do Jornal RelevO.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro espanto (Editora Medita, 2015).
FOTOGRAFIA DE UMA MORTE
Um vento salgado roubou
a cor de teus cabelos,
na nuca inventou o inverso
dum parto, partiste
como um navio
sem festim de aceno.
Perseguiste uma ilha qualquer
navegando em meu sangue.
A película imitou teu
instante de inferno.
Tive os olhos incendiados
como quem chora gasolina.
*
recentemente afiei minha língua
na ponta de uma estrela
havia muito medo na saliva
e pensei que disso poderia livrar-me
lambendo essa fria luz.
recentemente fiz minha língua
um astro repleto de espinhos
só sei que queria dizer ternura
mas só consegui falar agudo e frio.
refugiei-me do tumulto
na gruta da boca
acabei me confundindo
com as pensas estalactites
isso fez o abrigo
se passar por perigo
e senti a discórdia entre os dentes
me amassando como um teto baixo.
queria dormir a paz
de quem se vai sem pedir perdão
o sono das estrelas
que se esqueceram da crueldade
mas meu perdão era cruel
como quem o pede
sem se arrepender
A MENTIRA
Antes de dobrar o tecido leve
onde traçará com voltas
a renda com que enganas.
Antes de traficar teu verbo torto
pelas vias invertidas da orelha.
Antes de afiar teus dentes
para bem mastigar a cicuta
do palavreado com que babas.
Antes mesmo de secar teus lábios
para dar sumiço aos rastros
que te provam.
Engana-te, antes, a ti mesmo.
É preciso trair os próprios olhos
para trair a luz dos amantes.
É preciso enforcar-se
para dobrar a língua.
É preciso assassinar-se
para assassinar.
É sempre nosso avesso
onde fartam-se os corvos
É sempre nos nossos corpos
onde a mentira tem seu começo.
PEQUENAS CANÇÕES
I
o homem é o bicho
à margem do mundo
o desejo do céu
tropeça seu passo
atravessa seu olho
desfaz seu laço
II
descontínuo na vida
nostalgia da morte
não vive como coisa
tem, antes, uma sorte:
é sempre capaz
de fazer outra coisa.