Paulo Scott é autor de, entre outros, A timidez do monstro (Cia das Letras, 2006) e Mesmo sem dinheiro comprei um esqueite novo (Cia das Letras, 2014). Seus textos estão publicados em Portugal, Inglaterra, China, Argentina, Alemanha, Croácia, México, França e Estados Unidos.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Luz dos Monstros (Aboio, 2022), que pode ser adquirido neste link.
.
não é no jardim da ignorância
o corpo que não quer responder
contingência no possível do tempo
combinando-nos em olhos que esqueceram
nada é familiar nesse ouvir
o erro que não condiz
no que pusemos a limpo
porque no medo daria, juro, daria
se você não estivesse rindo
.
não ter tamanho para a arte
aguardar de meus pais
um sorriso que só acontecia
assistindo a filmes de violência
certeza de família
que se repetia
uma vez por semana –
show das estrelas
quando a morte encenada
acelerava a vida
enquanto eu procurava
o que seria do meu lutar
(tão cedo e atrás)
no que, desassistido
(não saldaria)
nunca mais iria embora
.
a língua te espera
te reitera no sonho e no sorriso
tudo que (do Osório matinal) não se habitua à prestação
decerto pelo chegar da tristeza
a tal luz do existir
(e do perceber)
desvelos entre o estrago
timbre das gerações
por Silviano Santiago
(que de novo canta seu canto sozinho)
incessante e caminho
de quem levanta
e do que tem florescer