Nathaly Felipe Ferreira Alves nasceu em 1988, em Mauá, São Paulo, onde vive. É ganhadora do Prêmio Maraã de Poesia 2019. Seu livro de estreia, Poemas Dissonantes (2020), encontrou colo na coedição das casas editoriais Reformatório e Patuá. Alguns de seus poemas inéditos foram publicados, em junho e novembro de 2020, na revista gueto e na mallarmargens. É doutoranda em Teoria e História Literária pelo IEL/Unicamp, com bolsa concedida pela FAPESP. Possui artigos e ensaios, frutos de seu trabalho de pesquisa, publicados em revistas acadêmicas. Trabalhou com educação pública por nove anos e acredita em sua potência, mesmo com tantas dificuldades.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Poemas dissonantes (Reformatório / Patuá, 2020).
SUPRESSÃO
O fim da tarde dói
rompe feridas púrpuras
— horizonte —
ruído d’água
o escuro projeta vazio
vozes de stellas perdidas.
A voz do mar mareja.
Soa surda em gotas de areia.
O silêncio esgota reflexos de céu
escorre pelos esgotos.
Agosto. Frios:
a tarde queima. Apaga.
À tarde, o cais corrói:
— hematoma de céu —
VAPORES
Às vezes,
o discurso
liquida:
o silêncio.
Às vezes,
o silêncio
entorna:
o líquido.
[apavorado evapora]
O silêncio lava tudo:
O discurso. O vapor.
O pavor do silêncio.
SER
Para ser árvore
basta regar-se do torpor
das horas que não são,
dos dias que não vêm,
dos ventos que só sopram
no marasmo terrível do
dia-e-meio.
Para ser bicho
basta nutrir-se do sangue
da aurora, da presa abatida
deliciosamente mantida
na mística caverna.
Para ser gente
basta desnudar-se
do verbo, aceitar a
vesguice da liberdade.
ECO
dizem que a poesia canta
mas ela só murmura
quem canta é a fala
porque nata embala
uma origem muda