Matheus Bibiano Branco é de Garanhuns, Pernambuco. Entre o beiral e o abismo, de 2019, é seu livro de estreia, lançado com a Editora Patuá.
CLARIDADE
Tudo o que arruinou
Enquanto eles pintavam
As vestes de verde-oliva,
Voltou a cingir os lúcidos
Com a sobriedade da vida.
O sacrifício já dá sinais
De que será abandonado;
O inflamado ainda exige,
Mas muitos já não ouvem.
Com o primeiro pé no mundo
E outro na garganta que levo,
Não preciso mais fazer força
Pra compensar os alucinados.
Deixo implodirem o gosto
Com que fugi das torturas
E refaço minha morada
No coração dos pardais.
PASSAGEM
Descestes as escadas
Aos chamados de ponto
Como se dez vozes
Descessem a mata
E espalhadas gritassem
As palavras incandescentes.
E teus pés despetalaram
Pequenas poças,
Cacimbas pros pássaros
Beberem a seiva do voo,
Pro bicho da noite
Beber seu sumiço.
Os bois aumentarão
Com chifres os buracos,
Depois com outra função:
A de guardarem teu corpo,
Já sem saliva ou sono
Sem um aviso de tardar.
ESTIMAÇÃO LATINA
Quando a mola
Amassa os ossos
De um novilho,
Amassa sem viscerar,
Embola víbora
Num embalo.
O mel do leito-rio
Enverniza
Seu aço pintado
Ou negro inteiro,
E não busca
Do vitelo
Tempero,
Apenas roja,
Se camufla,
Embarga
Em ilha.
ESPANTO
Como uma lasca do alimento
E vou logo dizendo
“O, DESGRAÇA DE VIDA!”
É comovido,
Mas o alimento só passou
Com o último urro
Dos que foram com fome,
E é por isso
Que descamba minha palavra.
Impecável.