Leonardo Chagas é um poeta paulista. Transita diariamente sobre as linhas férreas desde as margens do rio Juquery às margens do rio Tietê. Disseminador da poética paranóica Beat-Surreal, lança seu primeiro livro Cosmos/ Cacos em 2018 aos 22 anos sob o signo do Cão.
Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro de estreia Cosmos/ Cacos (Editora Primata, 2018), que acompanha também ilustrações de Lorena Romão.
CANÇÃO DA EXPERIÊNCIA
a cidade do inverso
o avesso do agouro
o cansaço do verso
o apelo, o abandono
o sagrado, a sangria
o castiço cachorro
a Camisa de Vênus
o perfume do Touro
as libras do vento
a virgem de ouro
retiram do tygre
o cordeiro tolo
desfeitos os nós
.
jangada rumo ao céu
a estrela solitária
ao piscar
desaparece
penso que preciso persistir
olhar de perto o brilho
olhar para o astro cintilante
meus dedos balançam no ritmo
solitário do vento
como tesoura
meus dedos cortam o ar
figuras imaginárias se dispersam
me distraio com o balanço
reaparece a estrela
meus pés nus no alto do corpo
fazem meu sangue jorrar mais forte
rumo ao peito
são muitas as direções de todas as coisas do mundo
fecho os olhos
desapareço.
DEZEMBRO
o vinho compartilhado da garrafa
as veias acinzentadas da neblina
a fumaça que sai dos lábios do desejo
os corpos estirados no chão da sala
coisas que jamais esqueceremos
“um violão guardado
aquela dor”
o som
e a fúria dos nossos corpos
iluminados na imaginação
corpos flamejantes que se enganam
que se entendem
que se amam
que nunca se tocam
fora dos sonhos.
O GRITO
P/ Allen Ginsberg (sob a luz de Claudio Willer) & Macunaíma !
Eu grito na orelha do Cristo
palavras descompassadas
sonetos desfigurados
sons neandertais
Eu grito na orelha do Cristo
meu sexo & o meu sossego
meus ritos e meus encantos
minhas predileções
Eu grito na orelha do Cristo
seis versos encandecidos
a reza de minha mãe d’agua
os escândalos dos guzerás
Eu grito na orelha do Cristo
quando me falta o silêncio
quando o corpo se faz presente
& me fode & me tira a paz.