Layla Gabriel de Oliveira (1999) é poeta, professora e graduanda em Letras na UFPR. Foi finalista do Prêmio Off-Flip de Literatura (2020 e 2021), e do Concurso de Contos Luci Collin (2020). Teve poemas publicados em mídias como Revista Torquato e Literatura BR. O seu livro de estreia, O que há por trás da porta, foi publicado em 2020 pela Kotter Editorial.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro O que há por trás da porta (Kotter Editorial, 2020).
ODE À FACA NA MINHA GARGANTA
como caco de vidro
eu engulo a palavra
que desce furando
abrindo buraco
vazando poema
eu engulo um caco
onde fura a palavra
que abre descendo
uma porta de sono
uma ponta de faca
eu abro uma porta
que aponta o poema
engulo onde vaza
e desce do sono
a palavra que
de vidro
.
Os filhos que nunca não tive
correm pelo quintal de casa
e eu escondo toda aresta ou quina de mesa
das mãos inquietas
e do coração
Os filhos que não são meus
(só amo coisas
que não são)
me acordam no meio da noite
e eu levanto, a fingir resposta
canto o que sei, a palma à mostra
com torniquete e oração
Todos os filhos, que não criei
nem pedi pra Deus,
na sala de espera, a se amontoar
nas farmácias, praças, banco e fila do bar
choram aos prantos, pedem cuidado
vejo-os à solta por todo o lado
dos lugares onde já estive
E eu não choro por nada
no mundo, nem por ninguém
como choro os filhos que nunca tive.
.
Eu vi o Sol se pôr nas tuas costas
como se nada nunca mais fosse nascer
Vem a tempestade, chacoalhar
eu toco a chuva sem molhar
ao afogar tudo o que era
e que não é
e não vai ser
Se peço calma,
escuta bem
é só um jeito
de dizer
o que eu queria
não querer
.
impeço o mundo do desgaste
segurando-o nas costas
onde não posso olhá-lo
quando a noite está difícil
eu tento me lembrar de que mesmo
se eu quisesse muito
não conseguiria estragar
nada que existe, tanto assim
incapaz de terminar qualquer coisa, eu fumo
meio cigarro e vou pra cama
quando criança eu não acreditava
que o mundo estava girando
tem vezes em que eu ainda
não acredito