João Henrique Balbinot: Meta amorfoses de um corpo abjeto (2020)

João Henrique Balbinot, paranaense de interior, nasceu em 1989. É um artista multiexperimentalista e também psicólogo. Como escritor, publicou os livros de contos “No arco-íris do esquecimento” (Multifoco, 2012) e “Permeabilidades do intransponível” (Patuá, 2016), e também os livros de poesias “Pequenezas e outras infinitudes” (Multifoco, 2014), “O medo de tocar o medo” (Patuá, 2018) e “Meta amorfoses de um corpo abjeto” (Patuá, 2020). Mantém no Instagram a página @poesia_fugidia onde compartilha seus escritos e colagens analógicas. Contato: [email protected]



Os poemas a seguir foram selecionados do livro Meta amorfoses de um corpo abjeto (Patuá, 2020).




NO CÉU, O QUE NOS ESPERA

Palavras perdidas de vôo
Empedrados pássaros
Calcificam-se no ar parado da tarde
E caem meteóricos
Mascarados pelo excesso de luz



FULGOR


A vontade de engolir seus vacilos
Estar em seus sobressaltos

Na dança errante
Caminhar na cartografia do seu corpo

E ser pouco
Porque pouca é a vida, frêmita

O toque inscrito em suas maravilhas
Embasbacados de transitoriedade

Ainda esparramados
Ainda ébrios

Espasmos e preguiçosas sonolências
Sobrando o que ainda busca mais

A pele com desejo de infinito
Como o é esse instante




TOMADO POR SAUDOSISMOS ARDENTES


Gasto como o mármore que imprime em si a pegada
daquilo que consecutivamente lhe esmaga
Nostálgico de tantos pisoteios, comprimido
O esquecimento tortura com as suas ausências
Pesar, com pesar
Um aguçado de tantas sensações
Onde a dor é só um apurado modo de perceber


BRILHARIA


O brilho de seus olhos dança à noite
Luz demente, inexata e rota
Sorvendo os fachos de tudo que perambula e risca o céu
Sendo em brevidades
Tempo que se decompõe
Fragmentos de loucura e de possíveis
O amor que falha e segue errante
Mastigando afetos lentamente, afetando entes
Nos descaminhos que não são dados transitar
Fortalecendo em passos tortos o que se sente e contamina
Nação que se faz borrando bordas
Na imensidão das nossas particularidades
Nudez exata que desfolha desvelo
Devassando sentidos, ao paraíso
Abrindo mandíbulas carne sonho
O que você grita eu sei
O que quero é o seu sussurro


Primata

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