Giselle Vianna nasceu em 1981 na cidade de Campinas-SP. É poeta, pesquisadora e ecoeducadora. Formada em Direito pela USP, é doutora em Sociologia pela Unicamp, com pesquisas sobre trabalho escravo contemporâneo.
Publicou os livros de poesia Interpeles (Editora Komedi, 2008), premiado pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas e Pau-rodado (Editora Patuá, 2016), participando de antologias e revistas literárias. Organizou também o livro Tempo de Jabuticabas (2016), lançado pela Editora Pontes. Eclíptica (Benfazeja, 2019) é seu livro mais recente, reunindo poemas escritos em Veneza durante pesquisa realizada na Università Ca’ Foscari.
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Os poemas a seguir foram selecionados do livro Eclíptica (Benfazeja, 2019).
VENEZA
deflora
meu medo
com o sal
dos navegantes
depõe
sobre os canais
abertos
e os varais
atentos
o sol
do instante
deserta
minhas veias
com a deriva
de tuas vias
com tua noite
naturalmente
fria
deflagra em mim
teu ciclo
e despista
o fatalismo
de meu vício tropical
ARSENALE
nem tudo reluz
na madrugada
nem todo monumento
movimenta o esplendor
de seu tempo
e na cidade dos homens
nada soube falar com o meu silêncio
como a tua arquitetura
que me toma nos braços
quando atravesso na noite
teu canal e cada passo
sobre a ponte é um passo
para dentro do mistério
sinto que ultrapassei o umbral
da tarde ensolarada
e escurecemos juntos
sinto que sou de novo criança
ante um céu estrelado
e meus lábios sem voz
sorriem, astrolábios do etéreo
como a última pessoa
a sair do mar, que sabe:
ali, esteve a sós com o universo
REFUGEE
em casa
em teus braços
num maço de rosas
e no espinhaço sideral
sinto em meu encalço
a fragrância acre
de minha carne
de caça
EXPANSÃO
crisântemo do mistério:
pedra lançada ao mar
e seus círculos concêntricos,
novo amor que nasce
desse amor que perece,
universo que cresce
na coroa das pétalas.