Diogo Luiz Yamanishi: nenhum reino (2017)

Diogo Luiz Yamanishi é poeta e mora em São Paulo desde 1992. Não concluiu a graduação em letras. Também trabalha com produção de cadernos & livros artesanais. Seu primeiro livro de poesia, nenhum reino, foi publicado em julho de 2017 pela editora Vindouros. Contatos: facebook / [email protected].

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro nenhum reino (vindouros 2017), disponível para compra neste endereço.

 

 

 

NENHUM REINO

 

ruas vazias:
vácuo e vento

da cidade
da cabeça:

rentes
indícios de tempo

papéis amassados voando
pelos meios-fios do centro

alta-tensão
concentração

símbolos no peito

exatidão –
desconhecida – cada palavra

 

 

A ALEGRIA DOS GAROTOS JOGANDO BOLA SOB O SOL

 

um dia sob o sol
um ano sob o sol
uma vida sob o sol

alegria é o alvo

a mira perfeita

oito horas de treino
por dia
refeições balanceadas
banhos quentes
e sonos de beleza

alegria é esporte
o hobby ideal

preferido pelos papais
a qualquer nobel de literatura

o corpo todo dói nos primeiros dias
sim
é verdade
mas nada que uma selfie convincente não resolva

eu me pergunto aonde essa história de alegria pode nos levar:
alegria & sua tecnologia de ponta
alegria instantânea
alegria em pó
todos os dias pela manhã
estômago em jejum

alegria
você me promete aquilo que meus amigos já têm
alegria
ajude a elevar-me
alegria
me ajude a ser feliz
ou será que é possível
felicidade triste assim?

alegria
cadê a comparação?
quais são suas medidas
seus parâmetros
seus preços?
alegria
vale o quanto pesa?

alegria
olhe para mim
quero ser sua putinha também

 

 

BELEZA SEM MOTIVO

 

o centro de gravidade em pane
meu querido

banal
mas você me sublinha os olhos

 

 

DENTRO DO ARMÁRIO

 

todos os pais ao redor do mundo
vêm contando um punhado de mentiras
para seus filhinhos assustados

monstro nenhum mora dentro do armário
nenhum palhaço de maquiagem
nenhuma mulher barbada
garantem
sem saber ler o medo dos olhos

a verdade – você me ensinou –
é fértil na cabeça das crianças
é lona na palavra dos adultos

seu beijo de boa-noite me cercou
feito os muros de um hospício

papai

eu tive um sonho:
sonhei que era eu mesmo
saindo do seu armário no meio da noite
para te pregar uma charada

um desfile uma parada –

através do meu medo específico

você retorna a sua infância
para descobrir assustadíssimo:
existem sim monstros dentro do armário!

e

na verdade

sempre fui eu
acordado
a te manter
acordado:
o meu armário
o seu armário:
nossos monstrinhos conceituais –

eu sinto muito se isso te embaraça
mas olhe para mim a minha gastura –
enorme é a distância da porta que se abre
da mentira pra verdade: enorme
e maravilhosa:

agora é hora de passear
com certas palavras sob o sol

 

 

Primata

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *