Danihell TW: Campos férteis (2022)

Danihell TW nasceu em Taboão da Serra (por ele chamada de Taboão das Trevas), é formado em Letras e atua como professor do estado de São Paulo.

Publicou os livros Convite ao abismo (Multifoco, 2014), As Musas estão esmagadas no asfalto (Benfazeja, 2016), Cosmopeles (Plaquete independente, 2017), Tempos de penhasco (Patuá, 2018) e a plaquete X (Primata, 2018), Masmorra (Patuá, 2019), Poemas da peste (independente, 2020) e Selfportrait (Guismofews, 2022). Teve a honra de estar entre os finalistas do Prêmio Off Flip de Literatura 2021 com o soneto Ausência e é o organizador do Sarau Encontro dos Malditos que celebra a literatura dark, gótica e melancólica.


Os poemas a seguir foram selecionados do livro Campos férteis (Patuá, 2022).


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Submersa nestes
Rios de sono
A memória se dissipa
Na corrente sanguínea
E a pele respira
O branco eterno
Da palavra morta
No abismo da boca.


.

Eu o conheço, mas
Não sei por qual nome
Devo chamá-lo.

Talvez os ventos
Espalhem novamente
As folhas e ali esteja
Seu nome adocicado.

Porém, eu vejo
E isso basta. A
Farsa do nome
Escora o ser em
Seu próprio vão.

Ouço o vento
Acariciar as folhas
E isso basta.



.

Colher destes
Olhos turvos
Do assassino
Da pele efêmera
A obscura flor
Que brota do solo
Rude do nosso crânio
Para que possamos
Beber de seu estranho
Néctar amargo e
Ressuscitar as velhas
Tardes leves de outono
Que rondam pelos ares.


LOBOS



Lobos entre lábios
Lambem ruas mortas.
Sobram obras tortas
De noturnos sábios
A tecer atalhos
Nestes campos falhos.

Em carnal covil
Tal olhada eleva
A ululante leva
Do animal tardio.
Luta lenta alua
Alva e altiva Lua.

Entre lobos, poros
Tão fechados dentro
Do noturno centro
Somam fortes coros
Contra o campo denso
Em furor intenso.

Sobram dentes tortos
A mostrar a cova
Que coloca a prova
Os estranhos mortos
Com seus uivos roucos
Qu´aqui rondam loucos.


Primata

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