Glauco Mattoso, academicamente estudado como um caso “queer” de poeta satyrico e fescennino, é auctor de mais de cinco mil sonnettos e mais de cincoenta livros de poesia, alem de ficção e ensaio, de um tractado de versificação e de um diccionario orthographico, este systematizando sua reacção esthetica às reformas cacophoneticas soffridas pelo portuguez escripto. Paulistano de 1951, perdeu a visão nos annos 1990 devido a um glaucoma congenito que lhe ensejou o pseudonymo litterario. Sua producção mais volumosa occorre apoz a cegueira, graças a um computador fallante.
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Os poemas a seguir foram selecionados do livro Graphophobia (Patuá, 2018).
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BATHOPHOBIA
A cegueira nos illude:
mesmo em casa, me appavora,
não havendo quem me adjude,
caminhar, confesso agora.
Sempre assumo uma attitude
precavida: si estou fora,
temo o piso, arisco e rude;
si estou dentro, o que me escora.
Sensação tenho de estar,
sem appoio, em mau local
ou suspenso, num logar
escurissimo e abyssal!
Como, em sonho, a gente pisa
num boeiro ou lodaçal,
num buraco e affunda, bisa,
accordado: é tudo egual!