O poeta, tradutor e ensaísta Claudio Willer fala sobre sua obra publicada, cinema, seus dias ácidos e suas noites lisérgicas.
Entrevista realizada por Luís Perdiz e Macaio Poetônio no dia 24/05/2019.
O poeta, tradutor e ensaísta Claudio Willer fala sobre sua obra publicada, cinema, seus dias ácidos e suas noites lisérgicas.
Entrevista realizada por Luís Perdiz e Macaio Poetônio no dia 24/05/2019.
Claudio Willer é autor dos livros de poesia Anotações para um apocalipse (Massao Ohno Editor, 1964), Dias circulares (Massao Ohno Editor, 1976), Jardins da Provocação (Massao Ohno/Roswitha Kempf Editores, 1981), Estranhas Experiências (Lamparina, 2004) e A verdadeira história do século 20 (Córrego, 2016), também publicado em Portugal pela Apenas Livros – Cadernos Surrealistas Sempre, em 2015. Além de ensaísta, crítico e agitador cultural, realizou importantes traduções de obras como Os Cantos de Maldoror de Lautréamont, Escritos de Antonin Artaud e Uivo, Kaddish e outros poemas de Allen Ginsberg. Um pouco mais de seu vasto trabalho e colaboração cultural pode ser conferido neste blog.
foto: Renata d’Elia
Realizaremos um breve panorama de sua trajetória poética, dividido em 4 postagens. Nesta segunda publicação, selecionamos alguns poemas de Jardins da Provocação (Massao Ohno/Roswitha Kempf Editores, 1981). Confira a publicação sobre seus dois primeiros livros de poesia neste link.
À TARDE
olhar com o olhar espantado
o vôo do primeiro pássaro noturno
e saber que em breve
haverá algum tipo de confronto
de alucinação coletiva, uivo geral
saber
que por trás do olho
guardamos uma planície de risadas
dobrada em algum desvão da alma
– a sensação lisérgica de estar aí
e perceber
a fumaça dos últimos acampamentos
a casa na encosta do morro
o albatroz que arrepia sua trajetória
os mosquitos que zumbem e que zumbem e que zumbem
nesta tarde
em que três petroleiros se encaram
e trocam sinais ao largo
e uma memória nos persegue
de rios, cataratas e pororocas
nesta praia
que é fim e começo
de qualquer coisa já sabida e possuída
e oculta
no oco da última fibra nervosa
Claudio Willer é autor dos livros de poesia Anotações para um apocalipse (Massao Ohno Editor, 1964), Dias circulares (Massao Ohno Editor, 1976), Jardins da Provocação (Massao Ohno/Roswitha Kempf Editores, 1981), Estranhas Experiências (Lamparina, 2004) e A verdadeira história do século 20 (Córrego, 2016), também publicado em Portugal pela Apenas Livros – Cadernos Surrealistas Sempre, em 2015. Além de ensaísta, crítico e agitador cultural, realizou importantes traduções de obras como Os Cantos de Maldoror de Lautréamont, Escritos de Antonin Artaud e Uivo, Kaddish e outros poemas de Allen Ginsberg. Um pouco mais de seu vasto trabalho e colaboração cultural pode ser conferido neste blog.
Realizaremos um breve panorama de sua trajetória poética, dividido em 4 postagens. Nesta publicação, selecionamos alguns poemas de seus dois primeiros livros, compilados em Estranhas Experiências (Lamparina, 2004).
ensaio de “América”, a peça sobre geração beat, abril de 1967 – foto por Décio Bar
poemas de Anotações para um apocalipse (Massao Ohno Editor, 1964)
O VÉRTICE DO PÂNTANO
J’ai tant revê de toi
que tu perds ta realité
Robert Desnos
1
O pântano é um espelho despedaçado – nele flutuam imagens conduzindo ao além-mar das derrotas, dos dias de angústia mais negra. Eu me perderei pelos labirintos e pelas mansardas, em busca de uma lembrança cercada por antenas trêmulas e lampiões chineses. Abrem-se as corolas para mais um abraço mortal do destino, e a cidade estremece e recua diante da proximidade do Apocalipse, enquanto percorro as ruas de muralhas desabadas e canteiros desertos, as mansões que aprisionam tempestades de gaviões negros. A cidade e seus serpentários, sua coloração de sacrifício, suas vertigens, seus braços que não alcançam mais o próximo instante. Os telhados me sufocam e dão a certeza de que há gestos que são uma antecipação da morte e olhares que encerram abismos.