Carol Sanches nasceu em Campinas em 1981. Autora de Não me espere para jantar (Patuá, 2019), menção honrosa no Prêmio Maraã de Poesia 2018, Devo admitir que me dá um certo prazer (Urutau, 2020), e dos livros independentes Poesias Pormenores (2007) e Toda diva tem divã (2008). Tem poemas publicados em revistas digitais e faz parte das antologias poéticas Parem as máquinas! (Selo Off Flip, 2020), Laudelinas (Mirada Janela, 2020), Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto: o centenário (Mirada Janela, 2020), Quem dera o sangue fosse só o da menstruação (Urutau, 2019) e Prêmio Sarau Brasil 2018.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Devo admitir que me dá um certo prazer (Urutau, 2020).
O TAROT
que o mistério do mundo
está no mundo
todos sabem
dirão, é claro
a lua tem fases
a lua estica as marés
a lua minguante faz cair os cabelos
de vergonha
só não dirão
tan seguros
como a carta se levanta inteira
após o corte
ou sobre como o corte
sangra limpo
sem vestígios
A FORMA
prefere os cavalos
montados a pelo
prefere as ondas
surfadas em jacaré
da vida tira,
estica
o máximo
da pele
O CRÔNICO
o mais difícil de morrer
é esta morte não anunciada
morrer é algo que se espera
depois que já se está morto
nem um minuto antes
A ESTÁTICA
2 corpos imóveis
frente a frente
36 graus e subindo
desça, por favor
disse num ímpeto
de fricção
encostou uma das mãos
no lado esquerdo
do seu peito
você mora na minha garganta
disse,
o tempo está seco
as moléculas, histéricas
desça daí
me toque
aqui
onde é úmido:
apertou a palma
contra as cortinas do coração;
com a mão que sobrava
manobrou suavemente
acima da testa
dos cabelos
num desejo espiritual
de desajustar miolos
eficientes
sentiu a densidade
descer pelos dedos
massageou as pontas
em movimentos circulares
levantou o olhar.
perceba, disse
mostrando-lhe os dedos:
ainda estalam
ainda são resultado
da nossa estática