Carlos Orfeu, nasceu em Queimados, Rio de Janeiro. Lançou “nervura” em 2019 e “invisíveis cotidianos” em 2020, ambos pela Editora Patuá, e “Ramagem pulmonar” em 2021, “David Lynch e a viagem vertical ao ventre de sua polpa abjeta”, 2023, ambos pela Editora Primata, e “Nos dentes dos olhos outra fome de ver” pela Editora Urutau.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro “Nos dentes dos olhos outra fome de ver” (Urutau, 2023).
SAÚVAS
são muitas mandíbulas
ígneas saúvas
re-
cortam
o chão
a casa
as paredes
imundas
o seu grito
de líquen
cansado
afunda
com a
casa
XÍCARA
a xícara de perfil
é um cisne
de asa fraturada
no seu fundo
resto de café
a cinza do cigarro
mergulha
como a palavra
o silêncio da luz
mergulha na sombra
deitada na mesa
ao redor
não há ninguém
a xícara descansa
emborcada
DENTES-DE-LEÃO
o sopro
acende
o movimento
a dança
costura
o acaso
a viagem
enerva
o início
do pouso
e partilha
NOS DENTES DOS OLHOS
O pintor traz o seu corpo
Paul Valéry
nos dentes dos olhos
outra fome de ver
o pequeno mundo
a pintura do corpo
delicadas veias
as cores de muitas
bocas movediças
no sol do silêncio
dentro da água
de outros olhos
partindo