Carlos Orfeu, nasceu em Queimados. É devoto das artes, sobretudo, da literatura e poesia. Publica em blogs pessoais, revistas e blogs literários. O poeta em 2017 lançou o livro invisíveis cotidianos pela editora Literacidade.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Nervura (Patuá, 2019).
FERIDAS
I
a boca do sol abre as vísceras da manhã
feridas abrem o pulmão do pássaro
do sangue nutrido na fome
floresce a árvore com suas cabeças
saudando a tudo que nasce e morre
CALABOUÇO DO AÇOITE
sou alguém que se descobre
infindavelmente negro
Marcelo Ariel
II
na carne
a cor da noite
é um canto
da pele
ramificada
no relâmpago
da destreza
CARNAGEM
quando o corpo
trai
o ar
entrega a carne
para a disjunção da queda
quando o ar
trai
o corpo
trama o avesso chão
na queda
AR PÉTREO
carregar na carne
esse ar pétreo
inventar no pulmão
outra saída
desobedecer o labirinto
dos músculos
coexistir no fôlego
que erige movimento
contra a asfixia
sussurrando o gatilho
no escuro dos tímpanos