Ana Martins Marques: trajetória poética

Ana Martins Marques nasceu em Belo Horizonte, é graduada em Letras na UFMG e tem doutorado em literatura comparada pela mesma universidade. É autora dos livros de poesia A vida submarina (Editora Scriptum, 2009), Da arte das armadilhas (Companhia das Letras, 2011), O livro das semelhanças (Companhia das Letras, 2015) e Duas janelas, escrito em dupla com Marcos Siscar (Luna Parque, 2016).

 

ana martins marques
foto: Rodrigo Valente

 

Os poemas a seguir são alguns dos nossos favoritos dos três livros da poeta publicados até 2015.

 

poemas de A vida submarina (Editora Scriptum, 2009):

 

a vida submarina

 

AQUÁRIO

Os peixes são tristes no aquário
mesmo que não conheçam o mar
alguma coisa neles quer o amplo.

No poema
morrem sem água
na primeira estrofe.

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Juliana Bernardo: Vitamina (2013)

Juliana Bernardo é poeta, taróloga e mochileira. Publicou Carta Branca (2011) e Vitamina (2013), ambos pela Editora Patuá. Desde 2012, organiza saraus, festivais independentes e rodas de conversa sobre escrita e publicação. Cursou Filosofia, na USP, e coeditou a Coleção Edições Maloqueiristas (2014), que reuniu 26 títulos entre poesia, ficção e teatro marginal. Escreve sobre as medicinas da floresta, e edita em casa seus livretos sobre bruxaria e sobre candomblé.

contato: [email protected]
https://www.facebook.com/caminhandocomosmisterios

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Vitamina (Editora Patuá, 2013).

 

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sou criança. ganho de presente um coelho e um lápis. o lápis para
desenhar o destino do coelho. nas páginas grandes do livro em
branco rabisco planaltos ensolarados e um enorme gato laranja,
eletrocutado de alegria. no verso desenho um campo que lembra
o jardim das delícias. a cor vai correndo atrás do que o lápis traça.
o livro foge do meu controle. o coelho é verde.

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Giselle Vianna: Interpeles (2008)

Giselle Vianna nasceu em Campinas-SP em 1981. Formada em Direito pela USP, é mestre e doutoranda em Sociologia pela Unicamp. É autora do livro Interpeles (Editora Komedi, 2008) e organizadora do livro Tempo de Jabuticabas (Editora Pontes, 2016). Idealizou o Coletivo Ocupecompoesia, que promove ações político-poéticas na cidade de São Paulo.

 


foto: André Gomes de Melo

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Interpeles (Editora Komedi, 2008).

 

ME

ilumina-me
pensava ele diante
do vagalume:
então o dissecava
até o caroço da morte
mas aprendi anatomia
consolava-se em pânico

diverte-me
pensava ele diante
do brinquedo eletrônico:
então o destroçava
e remontava
triunfante

ama-me
pensava ele
diante de Ana:

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Ana Rüsche – num quando

Imagem de Amostra do You Tube

 

Leitura de Ana Rüsche no evento Desconcertos de poesia, organizado por Claudinei Vieira no Patuscada – Livraria, bar & café, dia 19/07/2016.

 

NUM QUANDO

a cirurgia foi um after hours, mas estou
acostumada a ir dormir tarde
acho que os médicos também, tão animados
fui sim até o centro cirúrgico bem acordada e
fiquei acordada, sinto a hack entrando
entrando…
ainda ao longe, bem corajosinha, uma conversa
sobre qualquer coisa, luzes nos olhos
para que me sinta bem iluminada, bem disposta
de súbito lembro que não fiz depilação, e isso me
envergonha mortalmente
seria tudo filmado e colocado no youtube da
faculdade de medicina, ririam de mim
mas tenho de explicar – foi de urgência a
cirurgia, não houve tempo
nunca há tempo para nada nessas terras, apenas
para ficar ali, suspensa
e, afinal, não tenho namorado, foi uma urgência,
acontece

no início me estacionaram com o carro-maca ao
lado de um cara paciente também
podíamos até começar ali um romance,
lembro de ter desejado ao final “boa sorte, moça”
e isso acabou já com tudo, que bobo
ele morria de medo, ia retirar uma pedra do rim e
não se rendia a dormir
eu logo disse, ah, comigo também pensaram que
era cálculo renal, pela dor,
mas  depois viram que era uma laranja na
barriga que eu tinha…
de súbito lembro que removeram o cara paciente
com seu carro-maca e com seu medo
e fiquei pensando num poema do zukofsky, sobre
uma laranja e o sol e a letra a
e estava já chorando, desesperada por estar sozinha
e confundindo os poemas, estar tão sozinha,
e a dor, bem, isso é com as mulheres

Wagner Miranda

Wagner Miranda é formado em Letras pela PUC/SP e publicou o livro de poesia Adeus do Porto (Dobra Editorial) em 2013. Trabalha com tradução e administra o brincando de deus, que contém algumas de suas traduções para poemas e letras de músicas, além de uma seção multimídia com videopoemas em parceria com Marcelo Badari e Jeanine Will, áudios de leituras, etc.

 

 

SESSION
 
o estojo aberto sobre a mesa
companhia inseparável da cerveja,
stout escura como a noite que uiva lá fora
o veludo à mostra,
escarlate como os vasos
que irrigam nosso interior com vida
o breu repousa sobre o verniz
do corpo moldado com esmero
a coroa que o clássico renega
1, 2,3
quase imperceptível tap dance
sob a mesa, sobre a madeira ainda viva
suas mãos transpiram notas
sorrisos ofuscam a luz baixa
a disritmia não é evidente
a precisão é indiferente
diante dos rostos iluminados
pela reverberação do seu amor,
que vibra nas cordas resilientes
do seu fiel companheiro
você aprende algo que a teoria não te ensinou
os aplausos também se alimentam
de alma

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