Author: Primata
Elisa Andrade Buzzo: Notas errantes (2017)
Elisa Andrade Buzzo, formada em Jornalismo pela ECA-USP, estreou na literatura com os poemas de Se lá no sol (7Letras, 2005). Seu último livro de poesias, Vário som (Patuá, 2012), foi finalista do Prêmio Jabuti 2013 na categoria Poesia. Seus textos foram publicados em diversos livros, antologias e revistas literárias no Brasil e em países como Portugal, Espanha, Alemanha, México e Estados Unidos. Publicou o volume de crônicas Reforma na Paulista e um coração pisado (Oitava Rima, 2013).
Os poemas a seguir foram selecionados do seu novo livro Notas errantes (Patuá, 2017), a ser lançado em São Paulo no dia 10 de Junho, a partir das 19:00 horas, na Patuscada – Livraria, Bar e Café.
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cortaram-lhe as asas
e ainda assim tecia harmonias no chão
e agora fitaria não as copas mas bem de perto as folhas secas
e douradas pisoteadas na praça e se da pele tiraram-lhe
o sentir nisto também viu algo proveitoso pois assim passaria por
entre as folhas pontudas dos jardins misteriosos sem sentir dor
ciceroniaria as abelhas em seu desejo de pétalas e se dos olhos
lhe tirassem a visão haveria o silvo dos animais desses
sons absolutos haveria de evocar a forma viva dos seres e se então
por sua vez a audição lhe fosse destituída teria sua imaginação a lhe render
uma nascente cristalina de onde brotaria diariamente como um desejo indevido
ressurgido das pedras
Ademir Assunção: A Voz do Ventríloquo (2012)
Ademir Assunção nasceu em Araraquara/SP (1961). É poeta, escritor, jornalista e letrista de música. Autor de livros de poesia, ficção e jornalismo, como Zona Branca, Ninguém na Praia Brava e Faróis no Caos, ganhou o Prêmio Jabuti com A Voz do Ventríloquo (Melhor Livro de Poesia de 2012). Pig Brother, o livro seguinte, ficou entre os finalistas do Jabuti 2016.
foto: Fernanda Rudmer
Os poemas a seguir foram selecionados da obra A Voz do Ventríloquo (Edith Editorial, 2012).
BILLIE HOLIDAY
NA PORTA DOS FUNDOS
quanto abismo cabe
na palavra abismo,
quantos passos até a borda
da estrela-pantera-negra,
quantas brumas brancas,
quantos acordes de blues,
quantas noites sem sono
quantos abalos sísmicos
para sossegar o dragão
que cospe esse fogo azul
chamado névoa, vulcão,
solitude?
Annita Costa Malufe: Quando não estou por perto (2012)
Annita Costa Malufe (São Paulo, 1975) é autora dos livros de poemas Fundos para dias de chuva (7Letras, 2004), Nesta cidade e abaixo de teus olhos (7Letras, 2007), Como se caísse devagar (Ed.34/PAC, 2008), Quando não estou por perto (7Letras/Petrobras, 2012) e Um caderno para coisas práticas (7Letras, 2016). É doutora em Teoria e História Literária pela Unicamp e publicou os ensaios Territórios dispersos: a poética de Ana Cristina Cesar (Annablume/Fapesp, 2006) e Poéticas da imanência: Ana Cristina Cesar e Marcos Siscar (7Letras/Fapesp, 2011). Atualmente, é professora da pós-graduação (mestrado/doutorado) em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Quando não estou por perto (7Letras/Petrobras, 2012).
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o dia terminando
numa batida monótona
som monótono de uma
britadeira som de uma voz
que repete não estou entendendo
o que você quer dizer com
isso a vontade encontrar uma
frase que resuma todas as
imagens todas as
cenas que se acumulam ao
redor luzes que
descem por detrás de um
prédio imaginário
Donny Correia: Zero nas veias (2015)
Donny Correia, poeta e cineasta, é mestre e doutorando em Estética e História da Arte pela USP e bacharel em Letras – tradutor e intérprete pelo Centro Universitário Ibero-Americano (Unibero). Realizou os curtas experimentais Anatomy of decay, Braineraser, Totem, este selecionado para a 34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e Prêmio Canal Brasil, e In carcere et vinculis. Publicou os livros de poesia O eco do espelho (2005), Balletmanco (2009) e Corpocárcere (2013) e Zero nas veias (2015), além de ter organizado, junto com Marcelo Tápia a antologia Cinematographos de Guilherme de Almeida, para a Editora Unesp (2012). É coordenador de programação da Casa Guilherme de Almeida.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Zero nas veias (Patuá, 2015).
O PORÃO DAS CÉLUAS
para joão correia
para valdomiro boldrini
uma fila na farmácia pública:
um exército
de células vencidas se conforma
são semblantes e semblantes alquebrados
desprovidos e calados
nulos, retorcidos
imerso na inércia
à espera de uma senha
há uma espera que se sustenta
maior do que o tempo que lhes cabe
/ainda/
os tubos, as sondas, o pus
os desmaios
a vida se esvai
a vida /ex/ vai
no rebanho semimorto
na farmácia pública