Natalia Barros: Nuvens Ornamentais (2016)

Natalia Barros é poeta, cantora e paisagista. Nasceu em Santos em 1963. Trabalha com a palavra de diversas maneiras; publicou os livros Caligrafias (Edital Proac, 2011) e Nuvens ornamentais (Selo Demônio Negro, 2016), compôs diversas canções para o grupo LUNI e para seu trabalho solo como cantora, fez entrevistas para a rádio (CCSP)  com poetas e artistas, além do programa T42 no portal de literatura CRONÓPIOS. É uma das curadoras do projeto: LANDSCAPES | improvisos de poesia e música.

 


foto: Jaques Faing

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Nuvens ornamentais (Selo Demônio Negro, 2016).

 

 

 

DESDE DENTRO DESDE SEMPRE

 

pulso
frequência
oscilação
fluxo
propagação
amplitude
vibração
fusão

a caixa torácica abriga,
no espaço compreendido
pela curvatura das costelas,
entre o osso esterno
e a coluna vertebral:

02 pulmões
01 coração
37 ossos
01 onda do mar

 

 

 

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Armando Freitas Filho: Anos 1990

Armando Freitas Filho nasceu em 1940 no Rio de Janeiro e estreou em 1963 com Palavras, editado por conta própria com ajuda do amigo José Guilherme Merquior. Escritor compulsivo, publicou e continua a publicar uma vasta obra poética, marcada pela  ampla imaginação e musicalidade em seus versos singularmente controlados. Dada a extensão e qualidade de seus livros, resolvemos dividi-los em uma série de postagens. Confira a primeira, referente aos livros dos anos 1960 e 1970, neste link e a segunda, referente aos livros dos anos 1980, neste link.

Para a publicação de hoje, selecionamos alguns dos nossos poemas preferidos de seus três livros lançados na década de 1990: Cabeça de homem (Nova Fronteira, 1991), Números anônimos (Nova Fronteira, 1994) e Duplo cego (Nova Fronteira, 1997).

 

 

poemas de Cabeça de homem (Nova Fronteira, 1991)

 

 

NU DE VERÃO SUBINDO A ESCADA

 

Os dias pegam fogo logo cedo
com o mar a um palmo
e a carvoaria das montanhas:
pedra bruta batendo forte
o tempo todo no azul
de um céu aberto a tudo.
A paisagem perde o fôlego
e cada hora que roda
é um degrau a mais
para o alto, um salto
de mercúrio na escada
que uma loura em falso
sobe, movida a oxigênio
ardendo mais que a outra
natural e desmaiada
porque por baixo, por dentro
o cabelo negro ferve
forçando e ferindo
com suas flores pretas
a carne clara
desde o carvão das raízes
até o ar livre da pele
até
que o mar e o céu
se encontrem decididos
depois de tanto ensaio
a fundo perdido no horizonte.

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Mariana Payno: As ilhas não têm saída (2017)

Mariana Payno nasceu em Ribeirão Preto em 1992 e, desde 2010, vive em São Paulo. O apreço pelas palavras a fez jornalista, um pouco escritora e quase linguista. As ilhas não têm saída é seu primeiro livro de poesia.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados da obra As ilhas não têm saída (Editora Primata, 2017), disponível para compra neste link.

 

 

NAUFRÁGIO

 

a gente sentia que
o seu lugar era perto do mar
e meu o calor das suas vísceras
doentes

deita seus olhos fechados sobre mim
consegue respirar o que restou?
deita fora o que não foi

embarca no tempo do náufrago

escuridão
passiva
arrancada
do colo das ondas

o mar não engole suas costas
mas quase
preferia morrer no mar?

a melancolia da água
a solidão das âncoras
o mapa dos polvos
o som surdo das algas
a anatomia das conchas no ouvido

minha última voz perdida
nas suas redes frouxas

você ouviu?

o seu lugar era perto do mar
e o que restou a gente deita fora
onde agora piso
às cegas
a fundo

afoga.

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Diogo Cardoso: Sem lugar a voz (2016)

Diogo Cardoso é bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo. Participou de diversos projetos literários, dentre eles o sarau Faça pArte, em parceria com o departamento de cultura de São Bernardo do Campo, Leitores itinerantes, sob curadoria de Tarso de Melo e foi um dos curadores do projeto Clarice Lispector:. Frequentou 
diversas oficinas literárias, dentre elas Tantas Letras, sob coordenação de Tarso de Melo, e de Criação poética, 
sob coordenação de Claudio Willer. Têm publicações em diversas revistas literárias, impressas e virtuais, dentre as quais Polichinello, Zunái, Mallarmargens e O Cacto. Atualmente, é integrante do coletivo Tantas Letras.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Sem lugar a voz (Dobradura Editorial, 2016).

 

 

 

 

OS FOGOS

 

 

minha voz grita
a distância que seus cabelos
cantam fogos ateados.

o grito bate nos cabelos,
voz de fogo ardendo púrpura em sua
boca que guarda esse meu grito oco.

longe.

o desespero queima as idades,
meu grito estancado no vento
onde seus cabelos deitam
carícias que minha voz guarda silêncios.
– seus cabelos de rosáceas mudas.

grito o desespero oblíquo de não tocar-me

os seus cabelos que não
me batem luzes líquidas
a sua boca que guarda
em mim o seu silêncio

– grito que seus cabelos em minha boca
sepultam

o que de ti me calo

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Josely Vianna Baptista (2017)

Josely Vianna Baptista é autora dos livros de poesia Ar (1991), Corpografia (com Francisco Faria, 1992), Outro (em parceria com Maria Angela Biscaia e Arnaldo Antunes, 2001), Sol sobre nuvens (2007) e Roça barroca (2011), além da Fábula. NADA ESTÁ FORA DO LUGAR. Poema arborescente, plaquete recentemente lançada pelo selo Demônio Negro. Nos anos 1990, criou a coleção Cadernos da Ameríndia, dedicada a temas do repertório cultural e textual de etnias indígenas sul-americanas.

Os poemas a seguir foram selecionados a partir da coleção Antologia postal, belo e importante projeto da editora Azougue, em parceria com a Cozinha Experimental, que publica mensalmente, por assinatura, expressivos nomes da poesia brasileira contemporânea.

 

 

 

ROÇA BARROCA

As almas são visíveis em forma de sombras.
Da religião Guarani, via Schaden

 

viu o primeiro sol
depois do inverno
desembrulhar, folho por
folho, os rebentos

em cada greta
e grumo
do terreno
foi descobrindo
grelos
e vergônteas,
ocelos verdes
e outros
arremedos

no alfobre
farto de bolor
e mofo,
sobre os sulcos
cheios
de refolhos
– em cada covo
um eco de silêncio,
a própria sombra
um paroxismo
de roxos

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