Rique Ferrári: Rocket Man (2017)

Rique Ferrári é sommelier, professor e colecionador de antiguidades. Escreve poesias desde sempre, mas só agora lançou seu livro Rocket Man (Patuá, 2017), um projeto desenvolvido em viagens pela América do Sul, e todo ilustrado por grandes tatuadores brasileiros.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Rocket Man (Patuá, 2017).

 
 

 
 

MIJADA NO CENTRO DA MADRUGADA

 
 

chove da cintura para baixo num domingo rosmaninho
em mãos, meu órgão mil vezes animal
e perfumados fetos de plantas reverberam na planura do jardim externo
como se um destilado orvalho
deslizasse pelo esmagamento dos rodapés e parapeitos
tendo o poder de embriagar-nos
a fazer inclusive
a casca azul de meus olhos abertos, fechados e então semiabertos
vagar lentamente pela família de troços espalhadas pelo chão da estante
os lápis estão moles, escovas moles, chão, botões moles
meu mister amigável mole órgão
donde no anestésico corpo
o sangue sussurra pelas veias
uma canção de ninar

tempo: para sacudir o pinto

e como é paradoxal a cama ser leve e nós pesados a esta altura
na manutenção de um informático silêncio
(que parece tud0, tud0, tud0, tud0 saber)
jurado pelo ímpar e pelo par e
raramente interrompido
(apenas nos estalos dos fantasmagóricos móveis)

tempo: cama na distância do logo ali

volta-se pianinho para o leito
na sensação abafada
de que, se pisarmos em falso
pode o leve sensor da noite a qualquer momento disparar.

 

 

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Roberto Casarini: Casa 08 80 (2017)

Roberto Casarini (Marília/SP, 8.10.1983), ou Casa, publicou cinco livros de poesia: Casa Rio (Medita, 2013), Casa Fogo (Medita, 2013), Piroca na Oca (Medita, 2014), Casa Mari (2015) e Casa 08 80 (Urutau, 2017). participou do Laboratório de Criação Literária (Ed. Lab.) sob a pajelança do poeta Cláudio Willer, xamã-beat-surreal. o autor traduziu os poemas permutantes de Julio Cortázar, alguns deles publicados na revista euonça. a poesia construída por Casarini, usualmente, é feita à máquina com a permutação de cores (vermelho e negro), o que provoca labirintos ou galáxias de múltiplos versos. atualmente, usa pincéis, dedos e cotonetes para que as cores e formas se fundam com as palavras na criação de uma topografia de circuitos integrados. já pintou as paredes de casa e os muros da cidade na busca de novos traços, espaços e diálogos. poeta concreto e argamassa. poeta de ocas e casas ao acaso. poeta de 80 mundos em mudos muros. os poetas concretos e os escritores Julio Cortázar e Oswald de Andrade são os principais novelos usados pelo autor na costura de sua poética.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Casa 08 80 (Urutau, 2017).

 

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Jean Narciso Bispo Moura: Psicologia do efêmero (2012)

Jean Narciso Bispo Moura, poeta e professor. É natural de São Félix-BA e reside atualmente em Suzano-SP. Estreou em livro no início dos anos 2000, com o título A lupa e a sensibilidade, também é autor de 75 ossos para um esqueleto poético (2005); Excursão incógnita (2008); Memórias secas de um aqualouco e outros poemas (2011), Psicologia do efêmero (2012). E-mail: para contato: [email protected]. Site: www.literaturaefechadura.com.br.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Psicologia do efêmero (2012).

 

 

PORTO

 

Porto no ócio
Carga em demasia de palavras
Descoloco o olhar dos afazeres
Para o papel avulso
Diálogo-mudo
Sem fé na batina visível
Azucrinado
Enlouqueço dentro do confessionário

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Geruza Zelnys: Folheio teus cabelos, no contratempo do vento (2017)

Geruza Zelnys é escafandrista com doutorado em literatura líquida. Pesquisa as potencialidades provocativas, educativas e terapêuticas das oficinas de criação literária (UNIFESP-CAPES). Em 2014, criou o curso de Escrita Curativa. Publicou três livros de poesia: esse livro não é pra você (Ed. Patuá, 2015), se do meu púbis nascessem asas & outros poemas (Editora Oito e Meio, 2017) e Folheio teus cabelos, no contratempo do vento (Ed. Urutau, 2017); um livro de contos: 9 janelas paralelas & outros incômodos (Ed. Dobradura, 2016) e um romance com o prêmio PROAC 2015: tatuagem: mínimo romance (Ed. Patuá, 2016). O livro de poemas Quintais foi selecionado no Primeiro Edital de Publicação de Livros da Prefeitura de São Paulo e será publicado em 2018. Escreve no blog geruzazelnys.blogspot.com.br.

 

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Folheio teus cabelos, no contratempo do vento (Ed. Urutau, 2017).

 
 

 
 

SEMANÁRIO OU O TEMPO DA DELÍCIA

 
folheio teus cabelos nesta manha de segunda-feira
 

folheio teus cabelos pela manhã
e um sonho colado à corda de sete linhas mais
uma orelha
pendurada na língua a palavra
estremeço

meus olhos abertos no escuro

todas as páginas escritas começam a queimar
pelas beiradas
depois o centro
estremece

a cidade e seus chakras encobertos pela luz

um poema escapa
dos teus pelos
e eu não posso perdê-lo

fodam-se os livros

fodam-se os livros
e todas bibliotecas itinerantes

teu nome é incêndio
e morde

 

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Fred Di Giacomo: Guia poético e prático para sobreviver ao século XXI (2016)

Caipira punk de Penápolis, sertão paulista, Fred Di Giacomo já foi chamado de “polymath” (algo como ‘renascentista’) pela Vice Americana e elogiado por fazer um “free-jazz que junta repertório de vasta leitura com a velocidade fragmentada da sua geração” pelo jornalista Xico Sá. Fred coleciona poemas, contos, games e vídeos que usa como garrafas para lançar suas histórias ao mar. É autor de Canções para ninar adultos e Guia poético e prático para sobreviver ao século XXI lançados pela editora Patuá; além de livros infantis e jornalísticos. Prato Firmeza – o guia gastronômico das quebradas de SP, que editou e co-coordenou, é finalista de 2017 no Prêmio Jabuti. Filho de professores idealistas que o criaram rodeado de livros, o autor revezava bandas punk com poemas em zines e blogs em sua adolescência. Migrou para São Paulo para se arriscar como jornalista e chegou a redator-chefe, na Editora Abril. Nesse período, foi pioneiro na criação de newsgames, como Filosofighters e Science Kombat, e teve infográficos premiados internacionalmente. Por projetos como esses foi acusado pela Vice de redefinir a narrativa multidisciplinar. Depois de sete anos e meio, pediu demissão para morar em Berlim e tocar sua investigação sobre a felicidade – o Glück Project. Também compõe letras e toca baixo na Bedibê. Seus textos foram traduzidos para o inglês, espanhol e o alemão. Escreve para sobreviver.

 


foto: Felipe Cotrim

 

Os poemas a seguir foram selecionados do livro Guia poético e prático para sobreviver ao século XXI (Patuá, 2016), disponível para compra neste endereço.

 

 

CARTA AO FILHO

 

Oh, meu filho, escute bem.
Oh, meu filho, que ainda não brotou,
Brote bela flor,
venha com amor.

Oh, meu filho, escute bem.
Quando o seu pai se for,
não for mais eu,
Souber que já morreu.

Recorde-se:

Da terra, somos o sal
Do destino, o leme
Da existência, o intento

***
Dinheiro não é importante.
O que importa são as pessoas,
a arte e os pequenos prazeres:

Um café, uma cerveja, fazer amor
Ler o céu,
dormir abraçado com quem se benquer,

Ajudar sem ansiar nada em troca.
Ouvir uma canção que nos chova os olhos
e aprender algo novo a cada dia.

Não engolir a miséria,
Não destratar o próximo,
Não abaixar a cabeça.

Amar o outro, mas amar a si mesmo.
E devolver o mundo um pouco melhor
do que se recebeu

***
Um pouco melhor
do que
se recebeu

***
Meu filho querido,
Você ainda não nasceu,
Mas é um pequeno sonho meu.

Meu filho, o que importa
É só o amor
Que um dia me deram e, hoje, te dou.

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