Antonio Carlos Floriano nasceu em Itajaí, Santa Catarina, em 1961 e tem os seguintes livros de poesia publicados: Podre Flor (1988), Celacanto (1989), Cadernos do Japão (Massao Ohno, 1999), Poesia (2002) e Post Provisório (2018). Além destes, publicou livros na área de literatura infantil (Um Cavalo para Eduardo, Vento no Catavento e Crianças de todas as cores) e de fotografia (Carpintaria das Ribeiras do Rio Itajaí Açu e Retratos).
Os poemas a seguir foram selecionado do livro Post Provisório (Espelho D’Alma, 2018).
COMO SE APRISIONA UM RIO PARA SI
como se aprisiona um rio para si não há moirões na água arame para circular uma cidade
apenas um poço de nuvens engolidos nos mergulhos nas voltas infindáveis da geografia
onde encontrar o calor dos outonos as sombras desvanecidas a pouca cor dos trapiches adernados
como amarrar um navio fosse um bicho segurá-lo na corrente contra o terral se a noite se esconde na luz do farol
se a noite sussurra nas tralhas das redes a solidão dos beliches sem ar da tinta envenenada manchada de mar
que se tome um banho de água doce para prender o rio sob a pele do rosto se tirar das mãos as escamas das unhas
para se prender o rio na memória do poema feito um navio na geografia da cidade é preciso inventar um mapa no coração
Natasha Felix (1996-) nasceu em Santos. Vive em São Paulo e cursa Letras pela Universidade de São Paulo. É escritora, redatora e educadora. Seu livro de estreia, Use o Alicate Agora (Macondo, 2018) foi lançado em 2018 e a segunda tiragem pode ser adquirida no site oficial da editora. Tem textos publicados em revistas digitais e físicas.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Use o alicate agora (Macondo, 2018).
EXERCÍCIOS
horas antes do voo 315, poltrona reclinável, o céu colombiano. j. arranca meus dedos fora um a um. na cozinha, sequer pensávamos em despedidas. j. pega o alicate digo pega o alicate agora na gaveta isso é uma solução prática. ele arranca meus dedos fora um a um não sem antes lixar passar base nas unhas remover cutículas, beijar as cabeças. j. reúne meus dedos em conserva tampa em segurança me confia o pote transparente antes do embarque. não o levo ao aeroporto sou uma mulher contemporânea.
Leandro Rodrigues (1976) nasceu em Osasco, São Paulo. É Poeta e Professor de Literatura. Lançou em 2016 o seu primeiro livro: Aprendizagem Cinza (Ed.Patuá). Participou em 2017 da antologia Hiperconexões 3 (Ed. Patuá). Em 2018 lançou seu 2º livro: Faz Sol Mas Eu Grito (Ed. Patuá). Publicou poemas em vários sites e revistas de literatura do Brasil, Portugal, Espanha e Estados Unidos. Mantém seus escritos no blog [nauseaconcreta]
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Faz Sol Mas Eu Grito (Patuá, 2018)
MEMÓRIA
Tantas vozes mortas ainda escorrem Nessa umidade fria da parede
Uns passos intactos / calados no chão Destroçados qual vermes inaudíveis
Poças dormentes que rangem engrenagens tísicas de porcelana
bromélias que murcham com sangue nas cavidades & brotam nesses rios fétidos Usinas de fetos e espasmos
Gritos/ lamentos das galerias cavando domados silêncios
das horas turvas de um relógio de sol calcinado pela escuridão.
Poeta paraense, radicado em São Paulo desde 1972. Sobre Celso de Alencar, o poeta e crítico Claudio Willer, afirma que se trata do mais enfático poeta contemporâneo brasileiro. Escreve com furor messiânico, com a veemência dos profetas. Enquanto, o compositor e poeta, Jorge Mautner, o considera profeta da quarta dimensão, escandalizador e libertador de almas. Já o cineasta Carlos Reichenbach sintetiza: Celso de Alencar é, sem nenhum exagero, um dos maiores poetas brasileiros em atividade. Sua poesia blasfema e despudorada é da estirpe de Pasolini, Rimbaud, Leautréamont, Sousândrade, e todos os nossos malditos maiores. O artista plástico Valdir Rocha é taxativo: loquaz, perverso, mordaz, contundente, imprevisto, surreal, etc., e o poeta e crítico Carlos Felipe Moisés decreta: diabolicamente angelical ou angelicalmente diabólico. É reconhecido entre os grandes talentos da Geração de 1970. É autor dos livros de poesia Salve Salve, Arco Vermelho, Os Reis de Abaeté, O Primeiro Inferno e Outros Poemas, Sete (com 25 xilogravuras de Valdir Rocha), Testamentos, Poemas Perversos, O Coração dos Outros e Desnudo.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Desnudo (Quaisquer, 2018).
CARTA PARA A MINHA MÃE MORTA
Mãe, há uma loucura às vezes. Aqui dentro escuto um som distante de máquinas de serraria. Pela vidraça da porta vejo um velho ventilador prateado se movimentando no quintal. Os galhos das árvores sobem e descem, repletos de passarinhos vermelhos. Uma gigantesca onda de loucura me diz: enforca-te sobre a parede com teu vulto de tontura e fúria. E os homens gordos das suntuosas lojas de perfume se escondem atrás das cercas de madeira, masturbam-se e rastejam pelo capim e choram, riem, mijam e chamam as prostitutas de prostitutas, e fumam e bebem sem uma fala que comova, ou um pequeno discurso de prostituídos ou uma lambida de língua sobre as mãos.
Os outros, os magros, roçam seus pênis esbranquiçados nos encostos das cadeiras do Teatro Público Joseph Morgan e babam como homens inúteis e insignificantes. Eu lhes digo: não cuspam no chão por favor. Há uma criancinha deitada sob seus pés. Então, levemente se aproxima a nuvem fria derramando gelo sobre os velocípedes brancos. E ouço gritos de uma esposa, pálida, pedindo comida no meio da multidão de desempregados domésticos e ambulantes vendedores de sapatos e cintos, masculinos. Então vou à juventude dos anos dos meus antepassados para reconhecer os meus braços e o meu rosto antes que se desmanchem como as nuvens. Mãe, às vezes é tudo tão estranho. Os cobertores da lanifício Ravler Eskle têm me protegido do frio e tenho notado as minhas unhas que crescem como as romaneiras.
Lilian Sais é escritora, pesquisadora e tradutora de grego antigo. Doutora em Letras, é uma das fundadoras da plataforma de ensino e difusão cultural Literartéria e coeditora da Revista Libertinagem, de arte e literatura erótica. Possui publicações virtuais e impressas no Brasil e em Portugal. Em 2018 lançou a plaquete de poemas Passo imóvel pela Editora Cozinha Experimental. acúmulo (Patuá, 2018) é seu primeiro livro.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro acúmulo (Patuá, 2018).
ROUPAS NO CHÃO
(para Jamesson Buarque)
o pássaro voa até a janela.
saiu do meu ouvido,
mas as asas permanecem
batendo dentro da
cabeça.
(na luta
a luta
cansa.)
o peso é impossível e
há meses não sangro
como se deve,
pra fora.