Hilda Hilst nasceu em Jaú (SP) em 1930 e faleceu em Campinas (SP) em 2004. Uma das mais importantes escritoras brasileiras do século XX, publicou vasta e versátil obra nos gêneros da poesia, da ficção, da crônica e da dramaturgia.
Realizaremos um breve panorama de sua trajetória poética, dividido em 5 postagens. Confira as 3 primeiras publicação, relacionados aos livros dos anos 1950, 1960 e 1970, neste endereço.
Desta vez, selecionamos poemas de suas obras dos anos 1980: Da Morte. Odes mínimas (1980), Cantares de perda e predileção (1980), Poemas malditos, gozosos e devotos (1984), Sobre a tua grande face (1986) e Amavisse (1989).
Da Morte. Odes mínimas (1980)
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Rinoceronte elefante Vivi nos altos de um monte Tentando trazer teu gesto Teu horizonte Para o meu deserto.
Jorge Mautner (Rio de Janeiro, 1941) trouxe inúmeras contribuições para a cultura brasileira. Em tudo que produz, há uma notável correlação de temas e ideias: o Kaos.
Multifacetado, em 1968 roteirizou Jardim de Guerra, filme de Neville d’Almeida. Dois anos depois, em 1970, dirigiu o longa metragem O Demiurgo. Na música, concebeu muitos discos, dentre eles Jorge Mautner (1974) e Revirão (2007), e teve sucessos gravados por grandes nomes da MPB como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Chico Science & Nação Zumbi.
Na literatura, estreou bem cedo, aos 21 anos, com Deus da chuva e da morte (1962), obra agraciada com o Prêmio Jabuti, seguida de diversos livros, dentre os quais Vigarista Jorge (1965), Panfletos da Nova Era (1978) e Miséria Dourada (1993).
De modo geral, Mautner esteve presente nos mais relevantes movimentos culturais brasileiros das últimas 5 décadas, seja por meio de sua literatura, por suas composições ou pelas forças de sua presença e ideias.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Poesias de Amor e de Morte (1981).
ITENS DO MOVIMENTO UNIVERSALISTA DO KAOS
1) É um movimento nacionalista e universal. Daí nascerá o PK, ou seja: PARTIDO DO KAOS 2) As primeiras definições teóricas estão em toda a obra poética-literária-filosófica-musical de Jorge Mautner. Nota: urgente como primeiríssima tarefa publicar as obras completas (literárias e musicais) de Jorge Mautner. Livros e Lps. 3) O item três é épico-pitagórico e representa a tese-síntese-antítese: O Pai, o Filho Espírito Santo. Mas em nosso movimento totalizante o número 3 é ainda a pirâmide, o triângulo sexual do Id, o pai, a mãe e o filho-filha, o ego, superego e inconsciente. Ou ainda: o Movimento Universalista do Kaos, o Partido do Kaos, e o instituto plurimetafísico do Kaos é o maracatu atomizante em forma de pororoca que nem o gigantesco encontro de potencialidade do Amazonas com o mar. 4) O item 4 é também sagrado, aliás todos os números são. Incluída na filosofia do Kaos com K, a numerologia, a cabala, astrologia, telepatia, empatia e toda e qualquer fenomenologia, a psicanálise freudiana e a de todos dissidentes (ênfase em Marcuse, Normam O. Brown, Otto Ranck, Carl Jung, Ferensky, Geza Roheim e, claro, Wilhelm Reich. O número 4 é a harmonia total, que é a reprodução em contraponto de dois, o par, o amor, o 4 é o acréscimo dos dois alter-egos em dança total permanente. O item quatro é, sem dizer nada, mistério total e absoluto. É ótimo para rituais e festividades e meditações silenciosas e/ou musicais para exorcizar grilos, pessimismos, bodes ou satanismos agressivos como por exemplo: bombas de terror da esquerda, do centro ou da direita. O quatro é o repúdio que a bandeira da paz do Kaos faz e assim navega tranquilo em ritmo Axé-Odara e apazigua os demônios. Contrapontos e mistério primeiro da descoberta da quarta dimensão. 5) O número cinco é para designar que todas as minorias pertencem ao MUK: (Movimento Universalista do Kaos). As sociais, as espirituais, as negras, mulatos, cafuzos, mamelucos, místicos, mulheres, homossexuais, bissexuais, pansexuais, sado-masoquistas, etc… 6) O item sexto é para dizer que é tudo mais ou menos 73% em ondas sonoras-musicais. A comunicação total!
Lubi Prates (1986, São Paulo, Brasil) é poeta, editora e tradutora. Tem três livros publicados: coração na boca (2012), triz (2016) e um corpo negro (2018), que foi contemplado pelo PROAC com bolsa de criação e publicação de poesia. É sócia-fundadora e editora da nosotros, editorial, e é editora da revista literária Parênteses.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra um corpo negro (nosotros, editorial,2018).
Sergio Mello nasceu em São Paulo, em 1977. É autor de No Banheiro um Espelho Trincado (Ciência do Acidente, 2004), Inimigo em Testamento (Soul Kitchen Books, 2013) e Puma (Corsário-Satã, 2018). Além de poeta, é roteirista e dramaturgo.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Puma (Corsário-Satã, 2018).
PADARIA POLÍCIA
hora da pele cujo entorno é quase vegetal a manhã
muro de nata ao planetário de traumas diadema da íris
pé avelado que desperta o gramado leste entre o sumo e a gávea
Francesca Angiolillo (Niterói, 1972) é arquiteta, jornalista e tradutora. Em 2017, estreou na poesia com dois volumes editados pela 7Letras, Rua Lisboa, que saiu na coleção Megamíni, e Etiópia, vencedor do Prêmio Alphonsus de Guimaraens da Biblioteca Nacional em 2018.
Os poemas a seguir foram selecionados de Etiópia (7Letras, 2017).
ETIÓPIA, ETIÓPIA
Etiopía era a estação de metrô da minha casa quando eu me mudei daqui – você logo se lembrou da Etiópia. A estação de metrô tinha uma cabeça de leão como emblema a sua Etiópia tinha um filhote de chacal e um imperador segurando o filhote de animal uma pedra no anel no dedo do imperador sobre a cabeça do filhote – nela brilhava o sol. O fascismo que você deplorou do alto de seus oito anos na fila do leite porque leite não havia ergueu cidades na Etiópia. (No ano em que você nasceu o imperador foi eleito homem do ano da Time Magazine; depois disso bem depois um tanto depois de nascida eu outras crianças passaram fome sem direito a fila no vale do rio Omo.) Nunca soube das cidades que você não ergueu nas terras de Afar onde Lucy nossa mãe até hoje está mas sei da pedra do anel no dedo de Haile Selassie como se eu estivesse lá como se eu fosse você.
Sua Etiópia hoje é uma fotografia – nela você aparece cercado de gente negra pintada – guardada numa caixa de papelão.