Alexandra Vieira de Almeida: A negra cor das palavras (2019)

Alexandra Vieira de Almeida é poeta, contista, cronista, resenhista e ensaísta. Tem Doutorado em Literatura Comparada (UERJ). Atualmente é professora da Secretaria de Estado de Educação (RJ) e tutora de ensino superior a distância (UFF). Tem seis livros de poesia, sendo o mais recente A negra cor das palavras (Penalux, 2019). Seus poemas foram publicados nos importantes meios de comunicação: “Revista Brasileira”, da Academia Brasileira de Letras, “Jornal Rascunho” e “Suplemento Literário de Minas Gerais”. Publica constantemente em antologias, revistas, jornais e alternativos por todo Brasil e também no exterior. Tem poemas traduzidos para vários idiomas.


Os poemas a seguir foram selecionados da obra A negra cor das palavras (Penalux, 2019).



A NEGRA COR DAS PALAVRAS

A negra cor das palavras,
rasgando minha pele abismal

No sono dos mortais,
encontro a imortalidade da chama
que queima o corpo da manhã

Na noite dos apaixonantes véus,
o delírio do verso esférico
como a bola da lua em cristal de espumas

Não digo o verbo de espinhos
qual sangue que fere o tempo
Digo a palavra bruta
que tece os terçóis do sol

Na languidez do mapa,
o itinerário das negras letras
a faiscar um caminho para o Paraíso.

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Felipe Turner: Caduceu (2019)

Felipe Turner é artista de múltiplas vertentes expressivas, dedica-se a produção literária, plástica e musical em formas integradas. Foi estudante de História da Arte (Unifesp) e Letras (Usp), sua busca é trazer para a superfície do olhar, através da composição plástica e poética, a dimensão de epifanias que faz da arte uma vivência, tanto sensorial quanto espiritual e transcendente em si. É pesquisador da lingua grega antiga, das medicina da floresta e do taoísmo, estudos dos quais inspiraram o Manifesto Miracionista, ensaio poético sobre as manifestações da cura pela arte. Autor de Sinfonia do Caos (2016) e Caduceu (2019) a poesia é sua via de projeção e reflexão desde cedo.



Os poemas a seguir foram selecionados da obra Caduceu (2019), que pode ser adquirido em: www.felipeturner.com/caduceu




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Carlos Cardoso: Melancolia (2019)

Carlos Cardoso é engenheiro, natural do Rio de Janeiro. Destaque de sua geração, é considerado o representante de uma nova poética no país. Sua produção literária é marcada por uma escrita singular e de dicção própria, o que torna sua obra independente e única. Seu novo livro, “Melancolia” (Editora Record, 2019), tem a apresentação de Antonio Carlos Secchin e a orelha assinada por Heloisa Buarque de Hollanda. E o constante diálogo do poeta com as artes plásticas é estampado na capa do livro, feita pelo pintor e escultor Carlos Vergara. A obra foi eleita a melhor de 2019 na categoria poesia pelos membros da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).


Os poemas a seguir foram selecionados da obra “Melancolia” (Editora Record, 2019).



O ROLAR DA PEDRA


A pedra que percorre
o Rio de Janeiro
iniciou seu percurso
na fonte, pedra na banda
podre que se espalha
na escuridão com tiros,

bombardeios, sacrifícios,
crianças armadas de neblina,
tiro no escuro, furo,
que do alto do morro
ninguém acerta,
ninguém vê ou alerta.

A pedra rola pela escadaria,
as trincheiras estão por ali,
o calabouço já não é refúgio
e ser preso faz parte do cenário.

Pedra que vira manchete
da revista, pedra que está
no pó, no centro do morro,
pedra sem horizonte.

Pedra de coca, pedra de crack,
pedra na pedra.

É dura essa vida tão curta,
criança que já nasce armada,
pedra que corre e se esconde
vai de um morro a outro
como se voar fosse nada.

Pedra no dentro da madrugada?

Madrugada no dentro da pedra?

Pedra que brincar desconhece,
pedra em escola não vai,
pedra aviãozinho, pedra no asfalto,
pedra na Maré, pedra na Rocinha,
pedra no Leblon, Pavãozinho?

Rola essa pedra na margem,
já que a tangente é nada,
essa viagem é curta, abrupta,
pedra na jaula jogada.

Pedra.


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Anderson Lucarezi: Constelário (2016)

Anderson Lucarezi (São Paulo, 1987) é escritor, professor e tradutor. Publicou Réquiem (Ed. Patuá, 2012), livro vencedor do Programa Nascente USP 2011, e Constelário (Ed. Patuá, 2016). Como tradutor, dedica-se a trazer para o português as obras de poetas norte-americanos como Hart Crane, Jerome Rothenberg, John Gould Fletcher, entre outros. Faz, atualmente, mestrado em Letras Estrangeiras e Tradução na Universidade de São Paulo.



Os poemas a seguir foram selecionados da obra Constelário (Ed. Patuá, 2016).



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sequer o céu é sincero:

a estrela que cintila
não é a estrela que cintila,
visto que, na real,
imagem antiga.

o escuro que anoitece
não é o escuro que anoitece,
visto que, de onde vem,
já se fez brilho.

iria, eu, de volta,
fosse aceito,
a um céu do presente
em que uma estrela extrapolasse
ser mera brasa enganosa:
talvez, quem dera, farol
(visto que agora é lanterna traseira)
de um carro-tempo mais-que-perfeito.

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Natália Agra: Noite de São João (2020)

NATÁLIA AGRA é poeta, editora e tradutora. Publicou os livros de poesia De repente a chuva (Corsário-Satã, 2017) e o Megamíni Fotogramas (o silêncio possível) (7Letras, 2019). Publicou, também em 2019, seu primeiro livro infantil Os balões de Nise, na coleção Coco de Roda, da Imprensa Oficial Graciliano Ramos. Edita, ao lado de Fabiano Calixto, Rodrigo Lobo Damasceno e Tiago Guilherme Pinheiro, a revista de poesia Meteöro. Organiza, com Emily Hozokawa, Fabiano Calixto e Tiago Marchesano, a Desvairada – Feira de Poesia de São Paulo, que acontece anualmente na capital paulista. Seu novo livro de poemas Noite de São João será lançado em junho.


Os poemas a seguir foram selecionados do livro Noite de São João (Corsário-Satã, 2020).


NOITE DE SÃO JOÃO

Para Emanuella Helena, que se foi cedo demais (in memoriam)

Yesterday the sky was you
And I still feel the same
Billy Corgan


permanecemos aqui
anestesiados de imenso
frio nesta noite de São João

regressamos pela manhã
lareira ainda quente
aquecida pelo canto da cotovia

muito de nós dois
pelos cantos fechados da casa
o quarto vazio e seus brinquedos

enquanto você esteve aqui
ocupou com pequenas palavras
as borboletas

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