Rogério Skylab: Debaixo das rodas de um automóvel (2006/2020)


Rogério Skylab é uma das figuras mais expressivas do cenário alternativo brasileiro. Carioca, é conhecido principalmente por suas composições, distribuídas numa extensa discografia, iniciada com Fora da Grei (1992). A maior parte dos seus registros musicais é conceitualmente arranjada em séries: Série dos Skylabs (I a X), Trilogia dos Carnavais, Trilogia Skylab & Tragtenberg, Trilogia do Cu e Trilogia do Cosmos – sua produção mais recente e ainda não completamente lançada.

foto por: Solange Venturi


Os poemas a seguir foram selecionados do livro Debaixo das rodas de um automóvel, lançado em 2006 pela Editora Rocco, e reeditado pela Kotter Editorial em 2020.



VITRINES DE DOMINGO


Moro entre coisas efêmeras
num quarto de pensão impossível.
Ontem cedo matei dois ratos.
Aí está minha metafísica.

Sou um poeta errado.
Consumi muito de minha vida
deitado na cama e me masturbando.
Escrevo só para fazer de conta que vivi.

Olho pela janela do quarto
as vitrines fechadas da cidade.
Amanhã estarão repletas de luzes,

mas hoje adormecem como se ninguém as visse.
E mostram-se taciturnas, absurdas,
essas vitrines de domingo que eu olho tanto.

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Beth Brait Alvim: A febre e a mariposa (2018)

Beth Brait Alvim, de São Paulo, Brasil, é graduada em Letras Neolatinas pela FFLCH-USP; pós-graduada em Ação Cultural pela ECA- USP e é Mestre pelo PROLAM – Programa de Integração da América Latina da USP, com o tema: “Desvelando uma atitude poética para o mundo contemporâneo: experiências com poesia em Diadema e Catamarca”. Tem poemas, contos, artigos e ensaios em inúmeras antologias, revistas e sites nacionais e internacionais; os mais recentes, na revista E, do Sesc, e na Revista Conhecimento Prático – Literatura., MatériKa, da Costa Rica. É colaboradora na Revista Digital Entrementes. Foi contemplada com a bolsa de Especialização Profissional Politiques Culturelles et leur Administration, Programme Courants du Monde, França.  Representou o Brasil em Sonora, México, nos VI e XVI Encuentro Iberoamericano de Escritores Bajo el asedio de los signos; autografou seus livros, palestrou e apresentou-se em saraus e encontros como a FLIPORTO, Recife, e FLIP, Paraty. Tem participado como júri de prêmios e concursos, como o Prêmio de Poesia Lusófona OFF FLIP. Tem ministrado oficinas, cursos de literatura e teatro. Participa como poeta de performances e saraus, o mais recente: Iracunda, Ópera do Silício, com a orquestra SPIO, no Centro Cultural Maria Antônia, Casa da Luz, Centro da Terra e outros, sob a regência de Daniel Carrera. Tem resenhas críticas veiculadas no antigo Entrelinhas da TV Cultura. Organizou antologias literárias, participou de mesas críticas, a mais recente em fins de 2019 como comentarista do livro Dias ácidos, noites lisérgicas, de Claudio Willer, na Casa das Rosas. Tem vídeos documentários sobre sua vida e obra, foi entrevistada no programa Biblioteca Sonora, da Rádio USP, e no Perfil Literário, da Rádio UNESP., entre outros Escreveu cerca de 12 prefácios para livros. Assinou direções teatrais, e participou como atriz em espetáculos; o mais recente, Mistério do Fundo do Pote ou Como nasceu a fome, de Ilo Krugli, do Teatro VentoForte. 







Os poemas a seguir foram selecionados do livro A febre e a mariposa (Patuá, 2018).







A FEBRE E A MARIPOSA 1



el dios mariposa me abraça
me enlaça de púrpura e suga
lento o sangue e o sal do que
invento

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André Nogueira: Notre Dame do Agreste (2020)

Nascido em 1987 na cidade de Herdecke, Alemanha Ocidental. Registrado cidadão brasileiro no Consulado em Munique. No Brasil desde 1991. Vive na cidade de Campinas. Formado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas e em Literatura e Cultura Russa pela Universidade de São Paulo. Poeta, tradutor. Publicou os livro O presidente me quer morto (Urutau, 2019) e Notre Dame do Agreste (Primata, 2020).





Os poemas a seguir foram selecionados do livro Notre Dame do Agreste (Primata, 2020), disponível para aquisição neste link.




OS INIMIGOS DAS ÁRVORES


Os inimigos das árvores
são inimigos
dos amigos das árvores.
Os inimigos das árvores
são inimigos
também
dos inimigos das árvores.
Porque toda
e cada árvore
é de todo e de cada
amiga.

Os inimigos das árvores
são meus
e de todos
inimigos.
Os inimigos das árvores
são meus
e de si mesmos
inimigos.
Porque as árvores são minhas,
de todo e de cada
e de toda humanidade
amigas.

Os inimigos das árvores
são inimigos
das aves, macacos,
abelhas, formigas.
Porque as árvores são minhas
e de toda humanidade
e toda não-humanidade
amigas.

E de si mesmos inimigos,
porque a sombra de uma árvore
é de todos
e deles também
o abrigo.
Porque as árvores são
amigas de todos,
mas nem todos são delas
amigos.

Quem faz guerra com as árvores
antes faz guerra
consigo.
E a si mesmo,
a si mesmo e a todos
castiga.
Porque a vida do homem é rápida,
efêmera intriga:
é paz
e é guerra,
é amor
e é fome,
e com quê haverá
de encher a barriga?
As árvores dão
aos amigos
igualmente aos não-amigos,
igualmente aos inimigos,
amoras, pitangas,
goiabas e figos.

Porque a vida do homem
é paz
e é guerra,
é amor
e é fome,
efêmera intriga:
e não obstante
ele serra
das árvores todas
a mais verdejante
e antiga.
De frutos
a mais abundante,
de sombras
a mais generosa…
A todas eu amo,
de frutos e sombras,
de paz e amor as frondosas
amigas.


13 de julho 2019

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Nathaly Felipe: Poemas dissonantes (2020)

Nathaly Felipe Ferreira Alves nasceu em 1988, em Mauá, São Paulo, onde vive. É ganhadora do Prêmio Maraã de Poesia 2019. Seu livro de estreia, Poemas Dissonantes (2020), encontrou colo na coedição das casas editoriais Reformatório e Patuá. Alguns de seus poemas inéditos foram publicados, em junho e novembro de 2020, na revista gueto e na mallarmargens. É doutoranda em Teoria e História Literária pelo IEL/Unicamp, com bolsa concedida pela FAPESP. Possui artigos e ensaios, frutos de seu trabalho de pesquisa, publicados em revistas acadêmicas. Trabalhou com educação pública por nove anos e acredita em sua potência, mesmo com tantas dificuldades.  



Os poemas a seguir foram selecionados do livro Poemas dissonantes (Reformatório / Patuá, 2020).



SUPRESSÃO


     O fim da tarde dói
rompe feridas púrpuras
       — horizonte —
         ruído d’água
   o escuro projeta vazio
vozes de stellas perdidas.

A voz do mar mareja.
Soa surda em gotas de areia.
O silêncio esgota reflexos de céu
escorre pelos esgotos.

                        Agosto. Frios:
                        a tarde queima. Apaga.
                       À tarde, o cais corrói:

— hematoma de céu —


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