Pedro Moreira: Malemá (2021)

Pedro Moreira (1995) é poeta. Autor de Malemá (2021), publicado pela Editora Patuá. Colaborou com as revistas Subversa, Mallarmargens, Desenredos, Bacanal, entre outras.

foto: Shay Lenis de los Santos Rodriguez



Os poemas a seguir foram selecionados do livro Malemá (Patuá, 2021).




O RELÓGIO


Quando eu tinha cinco anos
minha tia me chamou
e disse: — que horas é você?

Eu entendi mas era pequeno
meus olhos eram como ponteiros
olhando para ela
em taque tique em vez de tique taque

Devolvi a pergunta na mesma cor:
— que passeio é você?
mas ela respondeu que não sabia

Me pegou no colo
com todas as horas que lhe restavam
falando como eu tinha crescido

Eu entendia mas era pequeno
— que relógio era eu?

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José Morais Antunes de Sousa: Hermès I-IV (2021)

José Morais Antunes de Sousa (Ilhéus, 1987) é mestre em Geografia pela Universidade de Catania. Hermès I-IV (Primata, 2021) é seu primeiro livro publicado.



Os poemas a seguir foram selecionados do livro Hermès I-IV (Primata, 2021), disponível para aquisição neste endereço.



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Cheguei em casa e encontrei minha
janela cheia de joaninhas; todas mortas.
Algumas ressecaram até diminuir de tamanho
adentrando ainda mais nas frestas da madeira.
Nunca pensei que tivesse como janela
um cemitério de joaninhas. Não
sei a quem eu escrevo. Mas não há
problema porque escrevo para todos.
Tenho todos em mim.

30.8.16

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Edith Derdyk: Da língua e dos dentes (2020)

A artista visual tem um percurso que alinha diferentes materiais, procedimentos e linguagens — de instalações a desenhos, de fotografias a gravuras. Pesquisadora e educadora, é autora de vários livros teóricos e ensaísticos de referência para Arte e Educação. Seu primeiro livro de poesia, A pesar, a pedra, foi lançado em 2018 e da língua e dos dentes é o seu segundo livro de poemas, lançado no final de 2020 pela Editora Urutau. Atualmente Edith coordena a pós-graduação Caminhada como Método para Arte e Educação na A Casa Tombada.




Os poemas a seguir foram selecionados da obra da língua e dos dentes (Urutau, 2020), com orelha de Agnaldo Farias, apresentação de Natalia Barros e posfácio Marcílio Godoi.



SILÊNCIO


algumas outras palavras
vem do choque
sentenciam uma onda sem água
esfarelada no ar
onda bate em algo de nada em nada
tão fácil não tão fácil
um silêncio

nuvem carrega saturno
chuva chove
olho cimentado de suor
nuvem carregada de chuva
nem vento dissipa silêncio assim
um silêncio

pedra opaca sem lugar definido
pedra comove uma espécie de dentro
pedra muda nem sai do ponto
elegância discreta aparece
parece vulto
vem por trás e corrói e afirma
quando assim é assim
um silêncio

tempestade de ar e areia e água
de grão em grão, mil grãos chapiscam
na pele na sombra na sobra
dia horário lugar
estreiteza que alarga
líquido que não se contém
esparrama pelas bordas e margens em desvios
um silêncio

sol na sombra e a falésia cai
fim de dia meio de tarde
sol na altura da falésia
a penumbra assombra
traça na terra a graça de uma sombra
caixa preta a céu aberto
luz veloz no limite da lâmina solar
inventa falésia parada cortada em viés
contorno sombrio lúcido cravado nos grãos de areia
deserto-praia vira mar virá e verá
abafa som e timbra olho
sobra linha de horizonte em acordes
um silêncio

silêncio é acordo
o silêncio me acorda

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Tomaz Amorim Izabel: meia lua soco (2020)

Tomaz Amorim Izabel (1988) é natural de Poá/SP. É pós-doutorando em Teoria Literária na Unicamp. Escreve sobre política e cultura na Revista Fórum e faz crítica literária no Jornal Rascunho. Já publicou traduções de Walt Whitman e Franz Kafka. É editor do coletivo de traduções literárias Ponto virgulina. Já publicou poemas em diversas revistas virtuais. Em 2018, publicou seu primeiro livro, Plástico pluma, pela editora Urutau. Tem em seu currículo de “fechados”: Contra: Hard Corps, Mortal Kombat II, Altered Beast e, mais recentemente, Cuphead. Chegou ao elo Diamante no Paladins.




Os poemas a seguir foram selecionados do livro meia lua soco (Editora Primata, 2020), disponível para aquisição neste link.





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o buraco negro no centro da galáxia
é invisível
incapturável
infotografável
apesar do halo
do ralo

em seu emaranhado crespo
em seu rumor surdo
não é possível que seja porta de saída
mas de entrada
para dobras
falas por lábios
de outros universos


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Orides Fontela: Teia (1996)

Orides Fontela nasceu em São João da Boa Vista (SP) no ano de 1940 e faleceu em Campos de Jordão (SP) em 1998. Mudou-se em 1967 para a capital paulista, onde cursou filosofia na Universidade de São Paulo. É autora dos livros de poesia Transposição (Instituto de Espanhol da USP, 1969), Helianto (Duas Cidades, 1973), Alba (Roswitha Kempf, 1983), Rosácea (Roswitha Kempf, 1986) e Teia (Marco Zero, 1996). Sua obra foi reunida em 2015 pela editora Hedra, acrescida de poemas inéditos.





Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro Teia (Marco Zero, 1996). Confira a postagem sobre suas outras obras neste endereço.





TEIA


A teia, não
mágica
mas arma, armadilha

a teia, não
morta
mas sensitiva, vivente

a teia, não
arte
mas trabalho, tensa

a teia, não
virgem
mas intensamente
                      prenhe:

no
centro
a aranha espera.

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