R. Paiva: Cenas da passagem (2021)

Raphael Paiva nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1998. Dedica-se à poesia desde os 14, tendo começado a traduzir aos 17 (inicialmente, apenas poetas anglófonos, como William Butler Yeats e Ezra Pound) a fim de estudar a lírica na intimidade de diferentes línguas e tradições.




Os poemas a seguir foram selecionados do seu livro Cenas da passagem (Primata, 2021), disponível para aquisição neste link.



I


Sou contra a pedra que jaz profunda, etimológica, no adjetivo pétreo.

A pedra, dormente, acrítica,
é de uma paciência sem descanso ao tempo.
A pedra pesa,
a pedra vale,
a pedra sem fim, a pedra finita,
intimidade concreta, substantiva, despida de metafísica – que não a penetra –

opõe-se ao destino de coisa abjeta.

Calada, a pedra dispensa também silêncio,
gravidade, vida, valores.
A pedra, com sua pedagogia ociosa, oprimida,
só me ensinou a atirá-la:

antes, nas horas vagas;

hoje, nas decisivas.


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Jhenifer Silva: no olho da mata virgem (2021)

Jhenifer Silva (1986) nasceu em Mirassol, no noroeste paulista, e vive em Barão Geraldo (Campinas) desde 2013. É mestra em Teoria e Crítica Literária pela Universidade Estadual de Campinas, onde desenvolve tese de doutorado na mesma área. Além de pesquisadora, trabalha com formação de professores e escreve poemas. Tem textos em revistas digitais e impressas, entre as quais estão Lavoura, Garupa e Felisberta. Seu livro de estreia, no olho da mata virgem (2021), saiu pela Ofícios Terrestres Edições. E-mail para contato: [email protected].


Os poemas a seguir foram selecionados do livro no olho da mata virgem (Ofícios Terrestres Edições, 2021)



ABRINDO CAMINHO


na estrada recém-aberta
esta lança esgarça o caminho
os galhos o rio toda a miríade
cruza o interior da folhagem densa
onde apenas bichos passaram durante
anos. algum tempo depois encontra o teu peito
fechado como o matagal. a geleira imediatamente
se derrete e peixes engaiolados saltam para as margens do rio
você alonga as sobrancelhas abre um assovio fino
_ demorou para os peixes mergulharem de novo
o mato volta a crescer, cobrindo toda ferida
foi um assovio ou alguma coisa foi dita?
despreocupada com os pés na grama
rio dos homens só mais uma vez
enquanto treme o meu corpo
inflado por aquele assovio
na navalha do silêncio
ouço trovões grunhi
dos ilumina-se céu
aprendo a falar

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Pedro Torreão: Pão Só (2021)

Pedro Torreão é cientista social, mestre em Sociologia e poeta. Nascido em Recife, reside em São Paulo desde 2017, onde escreveu “Pão só”, que recebeu menção honrosa no Prêmio Maraã de Poesia 2019.

foto: Luiza Assis e Natalia Nunes


Os poemas a seguir foram selecionados do livro “Pão só” (Urutau, 2021).



TEU SANGUE


raro sentido
em minha pele
espalhado em mucosas
e mãos.

Quando toco
uma falta
que ele me faz:
escorre ao chão.


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Milena Martins Moura: A Orquestra dos Inocentes Condenados (2021)

Milena Martins Moura nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro em 1986. É poeta, editora, tradutora e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Publicou os livros Promessa Vazia (2011, contos), Os Oráculos dos meus Óculos (2014, poesia) e A Orquestra dos Inocentes Condenados (2021, poesia). É editora da revista feminista cassandra e integra as equipes de colunistas da revista Tamarina Literária e de poetas do portal Fazia Poesia. Tem poemas e contos em portais e revistas como Subversa, Torquato, Mallarmargens, Ruído Manifesto, Desvario, toró, Arara, Kuruma’tá, Aboio, Arribação, Totem Pagu, Granuja (México) e Kametsa (Peru).


Os poemas a seguir foram selecionados do livro A Orquestra dos Inocentes Condenados (Primata, 2021), disponível para compra neste link. A obra foi completamente escrita durante a pandemia da Covid-19 como maneira de lidar com a solidão, o luto e o medo.


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a escrita que lambe o chão
sai do escuro
todo fim de ano
natal e finados
porre de vinho
crise alérgica
foto ruim
e divórcio
sai com fome
esperando sacrifício
e soluço
a escrita mambembe
que lambe a ferida
e cura a ressaca
que segura os pés do suicida
ao topo do prédio
volta pro escuro anônima
sem nunca dormir entre os reis

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Julia Raiz: mais poemas da plaquete cidade menor (2021)

Julia Raiz é escritora de ficção e ensaio, mantém o podcast Raiz Lendo Coisas e trabalha com tradução. Publicações: “diário: a mulher e o cavalo” (Contravento editorial, 2017), “p/vc” (plaquete, ed. 7Letras, 2019), “cidade menor” (plaquete, ed. Primata, 2021). No prelo: “Metamorfoses do Sr. Ovídio” (ed. Arte & Letra) e “Bebê tem fascinação por lâmpadas” (ed. Chão da Feira), @julia.raiz no Instagram.



Os poemas a seguir complementam a plaquete “cidade menor” (Primata, 2021), disponível neste link.



CIDADE DE BORRACHA

as luvas não pensam só sentem

disseram as luvas de Perón
numa sessão de tortura

a gente só queria se divertir
as diabas levaram muito a sério:

latin america literature has always had a relation
with politics and social reality
the failures of colonization

failures
falhas ?

como se traduz vingança
como se traduz um soco no meio da fuça

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