Carol Ruiz (@miacarolruiz) nasceu em 1989, em Campinas. É escritora, revisora de textos e roteirista audiovisual, com formação em Letras pela PUC-Campinas. Apaixonada por cinema e literatura, Carol mantém diários de infância e poemas engavetados que escreveu na pré-adolescência. Fascinada pelo universo místico e pelos mistérios do inconsciente, Carol investiga o feminino, o mitológico e o telúrico em seu livro de estreia, Raízes (Patuá, 2022).
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Raízes (Patuá,, 2022).
HERANÇA DO TEMPO
mesmo quando a saudade parece encoberta a memória vem à tona e derrama na folha de papel uma gota amarga de orvalho
Registros do evento BRECHA #2, realizado na Associação Cultural Cecília no dia 13/09/2022. Curadoria e Produção: Flora Miguel e Jeanne Callegari. Apresentações: Cesare Rodrigues e Cauê, Luiza Romão e Nath Calan, Ricardo Domeneck e Barulhista. Projeções: Guilherme Pinkalsky Apoio: Bernardo Pacheco, Associação Cultural Cecília e Editora Primata.
Verônica Ramalho tem dois olhos míopes e uma língua lépida nascidos em Santos, litoral de São Paulo, em uma segunda-feira de tempestade em 1987. Formada em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos, dirigiu curtas-metragens e trabalhou por dez anos como cenógrafa para televisão, teatro e cinema. Atualmente é tradutora e escritora. “Três línguas” é seu segundo livro, contemplado pelo edital de fomento ProAC.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro “Três línguas” (Córrego, 2021).
Guilherme Pavarin nasceu em São Paulo em 1987. Estudou Letras na Universidade de São Paulo, onde faz mestrado em Literatura Brasileira.
Os poemas a seguir foram selecionados do seu primeiro livro o maquinário fantasma (Urutau, 2022).
CÂMARA ESCURA
Como a luz da estrela já morta, cada coisa caminha para o seu contrário.
O macaco se torna jaula. Os frutos laivam as máquinas. E os desertos clamam línguas e dromedários.
Por isso, me diz o espectro, não dê ao destino tanto gosto. Quando pensar ter em mãos sua caveira, o mais fulcral dilema talvez lhe ocorra de tantas prudências ter preterido outros opostos.
É desse espanto (em tropeços por litorais os crepúsculos em riste) que entendemos cada tendão um sustentáculo de dois ou mais eclipses.
Por isso cante. De todas as artes, alguma lhe será inútil e com sorte sua ruína.
Apenas cante, ele assobia. Cante, cante as fraturas dessas túnicas de ossos.
Claudio Daniel, pseudônimo de Claudio Alexandre de Barros Teixeira, é poeta, romancista e professor de literatura. Nasceu em 1962, na cidade de São Paulo (SP). Cursou o mestrado e o doutorado em Literatura Portuguesa na Universidade de São Paulo (USP). Realizou o pós-doutoramento em Teoria Literária pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi diretor adjunto da Casa das Rosas, Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, curador de Literatura no Centro Cultural São Paulo e colunista da revista CULT. Atualmente, Claudio Daniel é editor da revista eletrônica de poesia e artes Zunái, do blog Cantar a Pele de Lontra (http://cantarapeledelontra.blogspot.com) e ministra aulas online de criação literária no Laboratório de Criação Poética, curso realizado à distância, via internet. Publicou diversos livros de poesia, ensaio e ficção, entre eles Cadernos bestiais: breviário da tragédia brasileira, Portão 7 e Marabô Obatalá, todos de poesia, o livro de contos Romanceiro de Dona Virgo e o romance Mojubá.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro Cantigas do Luaréu (Arribaçã, 2022).
O BOTO
peixe-cachorro das águas claras do rio belo-belo como a espuma das águas claras do rio a lua nova sobre o capim molhado a flor vermelha nos cabelos da guria cunhã ele, o pira- iaúra vem das águas fundas do igarapé com cara de macho pintudo ele, o piraiá- guará vem das águas fundas do igarapé com ares de moço bonito vai para as festas onde dançam as cunhãs bebe cachaça sob os luares onde dançam as cunhãs ele, o peixe-cachorro das águas claras do rio agora é moço bonito e dança as danças que dançam as moças-cunhãs cunhatãs leva as moças para a mata lá bem perto das águas claras do rio e dorme com elas sob os luares verdes da mata lá bem perto das águas claras do rio e faz amorzinho uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes até voltar a ser bicho boto-tucuxi peixe-cachorro golfinho encantado das águas claras do rio e as cunhãs agora prenhes choram, choram lágrimas de água que somem nas águas claras do rio.