Arthur Lungov é poeta e editor de poesia da Lavoura, revista de literatura contemporânea. É autor dos livros Luzes fortes, delírios urbanos (Patuá, 2016) e Corpos (inédito), que foi contemplado pelo 2° Edital de Publicação de Livros da Cidade de São Paulo; e da plaquete Anticanções (Sebastião Grifo, 2019). Foi publicado em coletâneas e revistas literárias. Foi curador convidado da Casa Philos na FLIP 2018, e na Cadeia Literária na FLIP 2019. Email para contato: [email protected]
Os poemas a seguir foram selecionados da plaquete Anticanções (Sebastião Grifo, 2019).
APESAR DE VOCÊ
através e aos arrancos os necos puxados feito patas rasgando o fino fio da mortalha desta eloquência de fragmentos que aderem à garganta como sufoco no escuro da glote tornada moela pra esmigalhar o elixir viperino jorro escarrado falido nesse choro seco e antecipado primeira condição dos dividendos vindos do samba penumbra vivaz que há de decretar o rolar de lágrimas como enormes rochedos a descer cascata punindo o grito empedrado de lado por suas invenções desmentidas.
OPINIÃO
mudar pela linha pelo lanho é definhar em tiras de couro forrando o frio de quem sobrou e se tornar mancha suja encostada na parede do monumento cercado por jardins de pedra não é batismo que não o de sangue coagulado no engasgue do bueiro que transborda a sopa ossuda tilintando o som do chocalho vindo do lugar mais perto do céu da boca do inferno devorando tudo ao inchar uma farda nomeada em cinzas.
SINAL FECHADO
alarido aberto e recortado moldura prenhe da faísca voraz e doce dos símbolos primais traçando como o primeiro mamute na parede em sangue da palma da mão nesse progresso analógico repleto de cenas de caça e conquista que vê a dispersão como primeiro sinal de avanço sufocando o silêncio com um grunhido oco.