Nascido em Taboão da Serra – SP, Daniel Tomaz Wachowicz é formado em Letras e é professor de português e inglês, tendo feito diversos cursos de produção literária. Em 2014 fez o lançamento de seu primeiro livro de poesias Convite ao abismo, pela Multifoco. Atualmente estuda música na FPA (Faculdade Paulista de Artes) e uma de suas metas é musicar poesias.
TEMPOS DE PENHASCO
São tempos de penhasco
Para a boca trêmula
Que aperta a fala
Que sai espremida
Entre dentes e lábios
Que tremem inseguros.
A fala é frágil
E se dissipa no ar
Antes de se chocar
Com os ouvidos
Que nunca ouvirão
Aquelas pétalas finas
Dizerem: eu te amo.
ARTE POÉTICA
Caneta bate em surdos ecos brancos
Que já sangram insanos e inquietos.
Caneta bate nestes muros, vetos
Concretos se desfazem entre trancos.
Aqui se fura a pele e se despeja
O sangue aglutinado nesta tinta.
Aqui, planeja, pensa… pensa e pinta
Com a sanguínea tinta o que deseja.
O sangue livra o branco das tensões
De sua fúria cega para o inerte.
O sangue almeja mundos no furor
Deste intenso desejo de criações.
O sangue na caneta expele, inverte,
Reverte o branco e lhe converte em cor.
A VOZ DE UMA PEDRA
Sou pedra. Falo feito pedra bruta,
Dura, tão dura igual palavra dura,
Palavra pedra, dura, forte e pura.
Daqui não saio, tem que ter disputa,
E pedra bate sempre bruta, forte,
Impenetrável, grave, tesa e brava,
Massa pesada, voz que é bruta clava,
Som estridente de pavor e morte.
Tenho vontade pétrea impenetrável,
De duros sentimentos, maleável
Nunca, teimosa sempre, sou teimosa
E provarei para vocês agora.
Posso virar estátua que decora,
Mas permaneço toda pedregosa.
A GRANDE RAINHA
A grande Rainha
Sempre escorre de minhas mãos
Quando tento pegá-la.
Encontrá-la, de certa forma,
É sempre perdê-la.
Suas visitas são breves
E quando ela se vai,
Resta a Noite,
Que corta meu corpo
Feito lâmina afiada.
COSMOGONIA
Selo rompido, sangue brota, touro,
Vespa, cavalo, cobra, sapo, verme
E escorpiões emergem da epiderme
Num cataclismo abrupto… Grande estouro…
Desta ferida brotam mundos velhos,
Mundos insanos, reluzentes mundos
Toscos e turvos, foscos, tão profundos
Mares escuros, negro sol, espelhos
Esmigalhados, embaçados, homem
Coisa sem forma, transformado em lava
Árvore mundo brota em homem mente…
Homem de seres anormais que somem
E reaparecem transformados. Cava,
Escava e cava até surgir ardente….