Nascido em Assis (SP), jan/1973, e morador de Campinas (SP), Maurício Simionato é
poeta e jornalista. Lançou os livros de poesias “Impermanência” (2012, selecionado
pela Secretaria de Cultura de Campinas para publicação), “Sobre Auroras e
Crepúsculos” (Ed. Multifoco, 2017), lançado na Bienal do Livro do Rio/2017, e “O
AradO de OdarA” (Patuá, 2021). Teve poemas publicados em diversas revistas
especializadas em literatura e em mais de dez antologias poéticas. Como jornalista, foi
correspondente na Amazônia.
Os poemas a seguir foram selecionados do livro O AradO de OdarA (Patuá, 2021).
TRIGRAMAS
Na infância, esqueci
quem fui.
Na velhice, lembrei
quem era.
Após a morte,
voltei a ser
o que se é.
CAVALO SELVAGEM NA NOITE
A primeira estrela da noite
chega entre nuvens
que já se foram.
O primeiro pássaro da noite
revoa do Leste imaginário
rumo ao Oeste solitário.
O primeiro cavalo selvagem
da noite sequer existiu
Mesmo assim
partiu
agalopado.
As primeiras pedras da noite
daqui a pouco
se tornam frias.
E tornam-se uma ameaça
aos primeiros passos
da noite,
com seus subângulos salientes
Feito os primeiros dentes
da noite,
que remoem a lâmina cega da imensidão.
A noite, em seu desjejum, nos engole.
E o faz apenas para poder raiar
no primeiro amor do dia.
FREQUÊNCIAS
A tecedura desaprumada
incide em polígonos
estrelados.
Frequências diamantinas
exasperam
em meu coração.
Costuram relâmpagos
nas armaduras duras
de corpo e alma.
A DOR DA PEDRA
As águas de março,
desta vez, passam como por lembrança de correntezas.
Inundam pulmões de ar escasso
Afogam seres para o reverso do mundo dos vivos
Tudo isso fica para depois. Quem sabe?
A brisa da fina areia que gruda no rosto à beira mar
Um cisco no olhar, que se refaz. A dor da pedra na encosta.
A linha do horizonte a nos trazer a primavera, enfim.
Não há mais verões que nos encerrem.
A bússola desnorteada rodopia nas mentes da multidão.
Línguas gastas silenciam falas.
Penso no esqueleto da folha em decomposição que me destes nesta
manhã.
Resgato a esperança que recomeça e se acaba a cada mísero fim
Avisto o caminho que se anuncia sem pressa a nos ver passar.
Quantos outonos poderíamos ainda guardar dentro do peito?