Beatriz Rocha é historiadora formada pela UNICAMP e escritora em trânsito entre São Paulo e Minas Gerais. Tem experiências em educação popular, curadoria de artes visuais e consultoria cultural. Já publicou poemas e contos na Revista Desvario, Revista Toró e Antologia Subsolo. A Mulher Grande (Editora Urutau, 2021) é seu primeiro livro.
Os poemas a seguir foram selecionados da obra A Mulher Grande (Editora Urutau, 2021).
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Peço para apagarem a luz
mas não entendem que são as luzes todas:
do quarto, da rua, das cidades
das estrelas, do universo
pois sou incapaz de sustentar um olhar
E talvez nem toda a escuridão
de um universo sem luzes
seja capaz de
vedar a timidez dos meus olhos
e a aflição das minhas mãos tímidas
De me fazer ser capaz de sustentar um olhar:
das mulheres
deitadas de baixo de mim
na minha cama
das mulheres
deitadas em cima de mim
na minha cama
das mulheres
deitadas de lado comigo
na minha cama
ELA E O GIRASSOL
no pequeno quarto em que você me:
deitou
girou
dançou
enfeitiçou
eu vi sua sombra sobre a minha e disse
que eras mais linda do que
uma plantação de girassóis
(mesmo sem nunca ter visto uma)
e você sorriu,
pequeno girassol no escuro
DAS COISAS QUE FIZ ANTES DO FIM DO MUNDO
Fui a um sebo e gastei exatos 222 reais
(em 14 livros, 2 já lidos, do Chico Buarque)
Desci para o litoral sul
Beijei um trompetista com
uma pinta charmosa num sarau
Passei estresse no trabalho pela milésima vez
Conheci o melhor amigo
da minha quase-namorada
e o detestei
A sessão de psicanálise foi desmarcada pois
Cirlana estava com resfriado
E em algum momento daquela semana devo ter usado
meias amarelas
Curioso isso de viver um fim do mundo
mas acho que é para ver o começo de um novo
que não será tão novo assim:
o mesmo sebo
o mesmo litoral sul
não peguei o número do trompetista
(e me arrependo um pouco)
o mesmo divã
e meias amarelas