Laura Navarro nasceu em São Paulo em 2000, e se interessou pela poesia aos doze anos – e, desde então, nunca mais parou de escrever. Ela já apareceu em coletâneas e vídeos do coletivo Senhoras Obscenas, além de já ter publicado dois livros: Clair de Lune (2016) e Natasha (2018). Atualmente, ela cursa jornalismo na Faculdade Casper Líbero.
Os poemas a seguir foram selecionadas da obra Sinestesia (Editora Primata, 2019), disponível para aquisição neste endereço.
FLANEUR
Olho aos cantos de minha cidade
como se passasse à tempos anteriores
aos meus
e andasse em outros sapatos
cheiro de fuligem que me penetra
a chuva cai lentamente
mudando lentamente
os tons do céu dos prédios dos museus
de absolutamente
tudo
erupção sensorial
de cores dissonantes
que podem ser
tocadas
pelos meus
mocassins
ANNA O
Abraço os vestígios de meu pai
o homem que me libertou
a alma, mas aprisionou
minha mente, intrinsecamente enrodilhada
como se não houvesse luz no oco de meu corpo
e eu tento chorar a escuridão de meu crânio
mas não encontro
nada
até que acordo embalsamada
e proclamo minha liturgia
desesperada, como se
o chacoalhar
finalmente pudesse
limpar os meus ossos
e me iluminar
– um filho –