Christian Dancini: Suspensos no ar em silêncio por um instante (2025)

Christian Dancini  é um poeta nascido e residente de São Roque, São Paulo. Aos 22 anos, publicou “Reminiscências”, com prefácio de Renato Gonda e Eduardo Agni, e ilustração de Emerson Santana. Lançou também “Pleroma” e “Dialeto das Nuvens”, semifinalista do prêmio Oceanos 2024.


Os poemas a seguir foram selecionados do livro “Suspensos no ar em silêncio por um instante”, seu lançamento mais recente, editado pela Primata em 2025 e disponível para compra aqui.



SUSPENSOS NO AR EM SILÊNCIO POR UM INSTANTE

Eu olho para as fotos como que procurando o destino.
Não sei exatamente onde eu me perdi.
Não sei exatamente onde a encontrei.
Não sei sobre o pavio aceso do tempo que nos esmaga
como insetos.
Eu olho nos teus olhos e te procuro.
Em todos os olhares eu te perco.
Porém, eu prometo, que na noite mais escura, do céu mais
vazio,
das estrelas mais fustigantes, fugidias, eu estarei
segurando a tua mão,
suspenso no ar, em silêncio, por um instante.
Eu procuro tua mão à noite, ao amanhecer e ao
entardecer.
Em todas as cordas me emaranho, enrosco o pescoço na
forca.
Entretanto, te perco, nas lâminas de aço pungentes,
no segredo que o céu não soube guardar. Eu escrevo poesia para alcançar o
teu nome, que já diz
tudo.
Eu olho para as fotos como que procurando a ti,
mas encontro as tuas últimas palavras cravadas em seda:
“tu jamais alcançarás a lua se não saltar o precipício”.

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Luís Perdiz: Você me enche de areia (2023)

Luís Perdiz nasceu em Campinas (SP). Escritor, compositor e editor, coordena a “Editora Primata”, com foco em literatura brasileira contemporânea. Atua também na produção e apresentação de eventos de poesia e experimentações musicais, como o “Festival Primata” e o “Sinais de Saturno”.

Seu livro “Desejo de terra” foi contemplado com a bolsa de Criação e Publicação Literária ProACSP. Com prefácios de Jorge Mautner e Claudio Willer, a obra retoma suas principais influências: o modernismo brasileiro, a tropicália, o surrealismo e a geração beat. Publicou também a plaquete “Você me enche de areia”, que reúne seus primeiros poemas.


Os poemas a seguir foram selecionados da plaquete “Você me enche de areia” (Editora Primata, 2023), disponível para aquisição neste link.


PLAYGROUND


o que mais me revelava naquele
playground vazio
era o silêncio
igual ao meu

infância fantasia atravessada
merthiolates colos contrastes
amigos imaginários
todos eles filhos únicos

ensimesmado
pressentia sons de macondo

outras partes longas
indefinidas
longe do baile de minotauros

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Denis Scaramussa: Chupacu: o Mito Brasileiro (2024)

Denis Scaramussa Pereira é de Itarana/ES e foi aluno do Curso Livre de Preparação de Escritores – CLIPE modalidade Poesia, turma 2021. É autor de “Na Garupa do Bozo: Poemário de uma Via Decadente”, 2021, pela Desconcertos Editora, finalista do I Prêmio Candango de Literatura, “Ode ao Bozo e Outras Cantigas”, 2022, pela Toma Aí Um Poema – TAUP, “Ai de Mim, que Sou Romântica”, 2024, também pela TAUP e “Chupacu: o Mito Brasileiro”, 2024, pela Editora Primata.


Os poemas a seguir foram selecionados do livro “Chupacu: o Mito Brasileiro” (Primata, 2024), disponível para compra neste link.



CHUPACU EM SONETO


No agreste nordestino
surge mito brasileiro
criatura mete medo
língua brasa, bafo quente

O herói de nossa gente
desamarra a retranca
faz sorrir qualquer carranca
copulando em sua anca

É o rei da barafunda
já proteja sua bunda
pois a noite é um perigo

No luar endiabrado
rasga a mata o seu cajado
lambe os beiços no melaço

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Giovana Cristina Bastos: Caranguejo (2024)

Giovana Cristina Bastos é paulistana de 2000. Através da palavra, tenta ressignificar o termo “griô” em sua genealogia, unindo memória e presente em projetos possíveis de futuro. Participou da antologia “Cartografias – vol. 1: contos de autoras brasileiras” (2022) com o conto “Água Doce”, publicou a plaquete “Axolote” (2023) e o livro “Caranguejo” em 2024, todos pela Editora Primata.

foto: Mare Mongelos

Os poemas a seguir foram selecionados do livro “Caranguejo” (Primata, 2024), disponível para compra neste link.



DIVÃ COM MINHA BISAVÓ E OYÁ

Homem, mato e reduzo a barro,
com minha mão e meu braço
belo e forte, torneado.

E depois banho as crianças,
impávida,
sem mágoa.

Liberdade,
no futuro, anglicismo
e uma carteira de trabalho: no fear,
sem medo, no fear.

Revés do açoite, cigana,
mulher que é lâmina,
sol nascente,
costela do impotente.

Viro do avesso uma víscera
e danço.

Penteio e tranço
as coroas crespas
das mulheres banto.

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Rodrigo Qohen: O Sopro de Orfídia (2024)

Rodrigo Qohen (1993) é poeta, multiartista, editor e agitador cultural de São Paulo; atua com criações coletivas com a Baboon & outras bandas, explorando suportes diversos como livro, impressões, performance, som, imagem e jogo.

Desde 2023, é co-organizador e MC da noite mensal de jogos poético-sonoros ¡SVSTVS!
expôs trabalhos de collage e fotografia na Unicamp (Campos Magnéticos, 2019), Galerie Amarrage (Saint-Ouen, 2020), Maison André Breton (Paris, 2021) e Casa SLAMB (2025).

Como dramaturgo-ator-produtor-diretor assinou os espetáculos Psicomanto (2022), Reflexvs (2023), Trickster: as pantufas de Artaud (2024) e Bestiário (2025); publica artigos em revistas de artes e literatura, além de poemas no blog Quimera Delirante.

Entre seus livros e plaquetes de poesia estão O Parricídio (2016), Lâmpada em ponta de agulha (2017), Entre a vertiginosinagem (2018), revista VIDRO (2018), Dente Desperta (2019), Os Uivos (2023), Nossos corpos explodindo como grandes sois bêbados (2024), Rastro e Registro: desvios assêmicos no Parque da Luz (2024) e O Sopro de Orfídia (Primata, 2024).



Os poemas a seguir foram selecionados do livro O Sopro de Orfídia (Primata, 2024), disponível para compra neste link.


MEU CORPO DEITADO NO FOGO

A lua banha o rio tortuoso
E viajante cega ao mirar na luz

Não vence o vento vindo deserto
Como monstro que faz murchar as ervas
E das pedras que usa em punhos, pó de giz

Rasteja até o altar para desenhar o ponto
com cabeça triangular e corpo Melusine
Suplica que lhe deixe penetrar mais fundo
Na noite de núpcias, trepadeira parasita
Enquanto a língua bifurcada amarra Todavia

A mente tem asas libertas, mas corpo no chão
Uma grande transparente lhe convoca aos pés
A cada beijo, sua poça seca
Duas jarras misturam o uivo
A lua em crescente vulva

Quando os ramos secam,
vem Orfídia e lhe deita o lobo… no fogo

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